quinta-feira, 13 de março de 2014

Ter pena dos outros é sofrer por si e pelos outros



Por: José Mendes Pereira

Quando pedi minha demissão da empresa em que eu trabalhava fui viver do comércio, no ramo de cereais, bebidas e outros mais que não podem faltar nas prateleiras de uma mercearia. Atividade esta que eu não tinha a mínima experiência. Vivi durante cinco anos do comércio, e posteriormente tentei várias atividades, as quais não me deram bons lucros, mas deram para sustentar a minha pequena família.

Após o comércio, tentei outras atividades, como: proprietário de bar, de casa de jogo, possui uma pequena fábrica de sabão, fui também rádio técnico, sendo que esta profissão eu tive que abandoná-la poucos meses de inciada, porque alguns rádios chegavam à minha casa ainda falando, e quando saíam, alguns fregueses me reclamavam que o seu veículo de comunicação estava falando fanhoso. Vendo que eu não servia para esta atividade, resolvi abandoná-la de uma vez por toda.

Exceto professor, a única profissão que mais demorei nela como patrão, foi a de serralheiro, mesmo já sendo funcionário público, permaneci por mais de 10 anos.

Quando eu era comerciante, fui várias vezes enganado por fregueses, mas o trambique que mais me doeu, sem dúvida,  foi de um senhor que eu não o conhecia.

Certa feita, eu me encontrava no meu pequeno comércio, quando de repente me apareceu um senhor baixo, moreno, cabeludo, de barba rala, aparentemente era homem do campo, puxando um 

cicerolajes.blogspot.com

jumento, e agarrados à cangalha, uns caçoás que serviam para transportar as suas mercadorias. De início, o homem conversou, conversou, tomou uma birita, mais outra, em seguida pagou-me, e depois abriu o jogo:

- Eu vim até aqui à sua mercearia ver se o senhor me vende fiadas umas coisinhas para eu levar para os meus filhos. Desde ontem que eles não comem nada, só bebem água, água; a mãe chora muito em vê-los com fome. São quatro filhos, todos capazes de caberem dentro de um balaio. Eu não tenho mais o que fazer. Ao vê-los com fome, fico me perguntando: Por que Deus me deu uma cruz tão pesada para carregá-la? Se o senhor fizer isso por mim, eu estou com um milho para quebrar, e assim que eu vendê-lo venho logo lhe pagar o valor das mercadorias que eu as levar.

Logo que ele me fez a proposta, de imediato lhe disse que eu não tinha condições de fazer nada por ele, uma vez que eu não o conhecia, nem onde morava. Os poucos fregueses que eu tinha eram meus vizinhos, e se eu o fornecesse mercadorias, com certeza, iria faltar para os meus fregueses.

Ele insistiu mais uma vez, mas eu conservei o que tinha dito antes, pois eu não podia vender mercadorias a quem eu não o conhecia. O homem montou-se no seu animal e foi-se embora, sem me dizer muito obrigado pelas minhas verdadeiras palavras.

Assim que ele saiu da minha mercearia eu me pus a pensar, colocando-me como se aquilo fosse comigo, meus filhos todos com fome e eu não podia comprar nada para eles. E que alegria as crianças iriam sentir  quando o avistasse já chegando bem perto de casa, dizendo uma para a outra: “-Lá se vem papai com alimentos para nós”. E de imediato fariam carreira para encontrá-lo.

Vai, seu Madruga! - José Mendes Pereira

Peguei a minha velha e surrada lambreta e tomei o caminho que ele havia seguido. Eu não sabia com certeza a direção, mas como eu estava no transporte, de qualquer jeito eu o encontraria.

Não demorou muito para eu o encontrar, porque ele seguia em uma estrada carroçável. E assim que eu o alcancei, disse-lhe:

- Vamos buscar as mercadorias. Eu resolvi vendê-las, mas em uma condição. Assim que o senhor vender o seu milho, venha logo me pagar.

- Com certeza, seu moço! Sou um homem de palavra. Quando dou a minha palavra, ninguém desmancha.

Com a lista em mãos, fui colocando as mercadorias sobre o balcão, uma por uma, e anotando-as no meu caderno, inclusive o seu nome, onde morava...

O certo é que foi a primeira e última vez que eu vi este senhor. Nunca mais o vi nem de longe. O homem era um verdadeiro trambiqueiro.

Minhas Simples Histórias

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Fonte:
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