terça-feira, 1 de novembro de 2011

Prazer em conhecer: Lampião Aceso entrevistou o pesquisador e escritor Paulo Gastão - Parte I



Quem é Paulo Medeiros Gastão?

Eu vos digo que é um ilustre pernambucano de Triunfo da Baixa Verde. Nasceu naquele histórico 1938, quatro meses depois do desaparecimento daquele seu vizinho de cidade cuja existencia viria a ser uma de suas obsessões. Hoje um cidadão Mossooense. Fundador da SBEC - Sociedade brasileira de estudos do cangaço; enviado especial da Laser Vídeo a diversos cenários da saga lampiônica. Membro fundador da Fundação Vingt- un Rosado, da Academia Mossoroense de Letras. Sócio do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), ex- professor da Universidade Regional do Rio Grande do Norte e da Escola de Agricultura de Mossoró (RN). Desfila pelo Brasil profundo mesmo agora com o charme dos seus 72 anos (Há quem diga que seja um tiquinho a mais, talvez emparelhado com o próprio Lampa) mas conservando um corpinho de 50.
Daqui pra frente ele mesmo se encarrega. Eu não considero o termo entrevista... Apresentamos o "Método Paulo Gastão do cangaceirólogo moderno" 
Como se dá sua entrada no cangaço? 

Comecei a conhecer a ambientação em companhia do meu pai, que vendia seus produtos em caminhão próprio. Suas atividades estavam resumidas aos sertões de Pernambuco, Paraíba e sul do Ceará. Assim fui sendo apresentado a inúmeras pessoas que na década de 50 (século XX), que participaram direta e/ou indiretamente do movimento cangaceiro. Conheci muitas vilas que hoje são cidades com seus respectivos nomes de outrora. Ex.: Rio Branco = Arcoverde; Alagoa de Baixo = Sertânia; Vila Bela = Serra Talhada; Queixada = Mirandiba; Patos de Princesa = Irerê; Patos de Espinhara = Patos; Pajeú de Flores = Flores; Placas = Cruzeiro do Nordeste e muitas outras localidades. E assim começaram meus estudos da geografia nordestina e cangaceira.


Do ponto de vista da leitura, consegui numa livraria da Rua da Aurora com Rua da Imperatriz na cidade do Recife ‘O mundo estranho dos cangaceiros’ de Estácio de Lima. Isto foi lá pelos idos de 1970. Em período anterior sob orientação dos meus professores, todos de origem européia, minhas leituras eram dirigidas para escritores do velho mundo, e na qualidade de religiosos, procuravam afastar os autores da União Soviética, não sabendo eles da força, vigor dos contistas e romancistas russos. Hoje, concluo que cheguei atrasado para pegar a Maria Fumaça que me levaria aos sertões, mas, ainda cheguei a tempo. Todo e qualquer tempo para se degustar uma boa leitura, é tempo ideal, independente inclusive da faixa etária. O crescimento em busca de novos relatos ocorreu em progressão geométrica, me tornando verdadeira ‘traça’ de livros. Mas, tive como ponto de partida a Zona da Mata ou litoral onde tomei conhecimento da obra de José Lins do Rego com Menino de Engenho, Moleque Ricardo, Banguê e Usina que compõem o ciclo da cana de açúcar. Depois vieram outras obras deste e de outros autores.

Então apresente suas crias.

As lançadas são: Contribuição a uma Bibliografia do Cangaço – 1845-1996. 1996; Carta a Almeida Barreto (notas e comentários), 1999; Quem é Quem no Cangaço – Dicionário dos escritores do cangaço, 2002; Na Rota dos Coronéis, Cangaceiros e Beatos, 2005; Viagem ao São Francisco – do Litoral ao Sertão, 2006; Seriema – Ave em extinção, 2010.

Qual o Filho predileto?

O que me levou a trabalhar com bibliografia sobre o cangaço foi o fato de os pesquisadores não tinham onde buscar as referências necessárias ao bom andamento das suas pesquisas. Surgiu então o título – Contribuição a uma bibliografia do cangaço – 1845 – 1996. Espero que a cooperação tenha sido de real utilidade.

Livro de outro autor. Por que?

Pergunta muito delicada e que merece uma análise, mesmo que sucinta. Temos que levar em consideração a época em que viveu o escritor; das nuances descritas, se de caráter geral ou trabalho referente à sua região de origem; no que diz respeito ao conteúdo, se retrata a parte civil ou militar; se simples entrevista ou analítico propriamente dito; se específico ou complementar de outro assunto correlato; se por experiência vivida ou por ocasião de pesquisa de campo; tese de mestrado ou doutorado; etc. Afinal minha escolha recai para Aglae Lima de Oliveira e seu memorável ‘Lampião, Cangaço e Nordeste’.


Seu trabalho é feito numa época onde cangaço não tinha nenhum valor cultural, educacional e poucos livros tinham sido escritos. Ela levantou uma bandeira e segurou, indo mostrar o nosso valor nas telas da TV no Rio de Janeiro. Um grande feito para a época. Éramos nós nordestinos muito provincianos em matéria de leitura, exceto nas grandes cidades e com poucos adeptos. Sertaneja conhecia as veredas do sertão e assim soube fazer um relato reconhecido até os dias atuais. Como mulher buscou se colocar ao lado de Raquel de Queiroz, desde que raras mulheres se apresentavam como escritoras, principalmente, em se tratando de assuntos vivenciados por este mundo nordestino que muitos ainda tratavam como os do ‘norte’.
Porém, não posso perder a feliz oportunidade de percorrer nas largas estradas construídas pelo Lampião aceso, sob o magistral comando de Kiko Monteiro e não mencionar um épico do cangaço, principalmente por ter conhecido e convivido com pessoas ligadas ‘Vingança – Não, obra sobre Chico Pereira.



Qual é o primeiro título recomendado para um calouro?

Vários autores se dedicaram a um determinado personagem; a uma região (estado); a pequenos relatos, etc. Para se ter uma visão mais ampla do mundo cangaceiro, recomendo a obra do padre Frederico Bezerra Maciel, intitulada – Lampião, seu tempo e seu reinado, em 6 (seis) volumes (1985-1988); além de Carnaíba a Pérola do Pajeú - 1992. O autor se esmerou em situar o leitor ao meio ambiente da matéria descrita, quando elabora mapas elucidativos, sendo o único escritor que assim se portou. Leitura objetiva sem a condição acadêmica.

CONTINUA...


http://limagronomiacruzce@yahoo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário