segunda-feira, 16 de junho de 2014

Nossa Senhora chora em vilarejo

Por: José Mendes Pereira

O vilarejo amanheceu em festa, porque recebera a visita da mãe rainha em pleno verão. A população estava inquieta, e nem o pequeno mercado abriu as suas portas para atender aos feirantes. 

O Padre Zé Luiz que havia chegado recentemente naquela capela para cuidar das ovelhas do vilarejo, fora acordado às pressas para puxar um terço junto aos fieis. 

 
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No altar, encostada à parede, uma estátua de Nossa Senhora, a mãe rainha, fabricada de gesso e vestida com tecidos de boa qualidade, controladamente derramava lágrimas sobre o seu manto, fazendo com que os enlouquecidos fieis dessem início a uma espécie de terço, implorando que a santa abençoasse aquele sofrido lugar.

As atividades do vilarejo estavam paradas. Nenhum movimento pelas ruas, ninguém nas calçadas, nos bares, nas vendas, exceto a capela do lugar,  que  logo lotou, assim que a notícia das lágrimas derramadas pela santa se espalhou pelas pequenas ruas do vilarejo.
  
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Em um momento chegou o leiteiro em uma carroça conduzindo o leite para sua freguesia, e ao tomar conhecimento das lágrimas saindo pelos olhos da  santa, esvaziou os bules, derramando todo leite sobre o calçamento, e em demasiados gritos, solicitava um terço para acompanhar as orações puxadas pelo o padre Zé Luiz. 

Dentro da capela a ladainha dos religiosos causava espanto a quem por ali passava, choros, pedidos de perdão feito pelas velhas, pelas jovens, pelos velhos, por todos que entendiam de fé e de milagres.

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O proprietário do abatedor do vilarejo, ao tomar conhecimento do que estava acontecendo na capela, ordenou aos seus empregados que soltassem o gado que estava marcado para morrer, achando que aquelas lágrimas da santa era um sinal de Deus, ou de uma nova visita do senhor Jesus Cristo ao nosso planeta.

A Raquele, a prostituta do lugarejo, ao ver as lágrimas da santa mãe rainha, ajoelhou-se diante dos presentes fazendo uma jura: "-Que Deus perdoe os meus erros, e a partir de hoje, nunca mais abrirei minhas pernas para homem nenhum satisfazer os seus desejos sexuais".
    
Um assassino que recentemente havia ganhado a liberdade, caiu em pranto, ficou implorando a Deus o seu perdão, lamentando a vida de alguém que para satisfazer o seu eu, havia eliminado. 
  
O vilarejo havia parado e não tinha mais movimento nas ruas. Todos os moradores do vilarejo  estavam na capela em reunião com a mãe rainha.

Após o meio dia, a população resolveu fazer revezamento. Quem já estava ali desde o nascer do dia, que fosse em casa, tomasse banho, almoçasse, e retornasse para a capela. E quem estava chegando, ficaria para fazer companhia a Nossa Senhora, até a chegada de quem se ausentara para as suas refeições.

Em um momento, descuidadosamente, uma senhora já de idade, foi até à santa, e querendo só para si, fortemente a abraçou, e foi neste momento que a população notou  o motivo das lágrimas da mãe rainha. A velha ao puxá-la, desprendeu-a um pouco da parede, e todos que estavam presentes, perceberam a grande farsa. Ali não havia nenhum milagre. Apenas uma montagem de mangueiras finas por trás da santa, chegavam até aos olhos da estátua, fazendo com que descesse gotas de água como se fossem lágrimas.

Isto fez com que os fieis perdessem um pouco da fé que tinham. Foi apenas uma montagem feita pelo sacristão. Como ele era esperto, ficava com as doações dos fieis. Temendo ser descoberto pelo padre Zé Luiz a sua desonestidade, resolveu fazer tamanha montagem, no intuito de arrecadar dinheiro para que o padre Zé Luiz não percebesse a sua roubalheira.

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