quinta-feira, 3 de abril de 2014

Não tivemos vida boa, mas nós éramos felizes

Por José Mendes Pereira
  

Nós éramos 16 irmãos, sendo 10 mulheres e 6 homens, todos  do  mesmo casal, nascidos entre as várzeas à beira do rio do Carmo, na localidade Sítio Mururé (Barrinha), pertencente à família Duarte, mas esta propriedade em que nós morávamos era do senhor Manoel Duarte Ferreira,


 Manoel Duarte Ferreira - Assassino do cangaceiro Colchete 

o homem que na tarde de 13 de Junho de 1927, em Mossoró, assassinou o facínora Colchete, e além deste, deixou gravemente ferido o cangaceiro Jararaca.

Ao centro -  o cangaceiro Jararaca, ladeado por policiais 

Apesar das dificuldades que nos visitávamos constantemente, por não termos alimentações nutrientes, exceto o leite de cabra, e o queijo, como todos os camponeses, o grosseiro nós tínhamos, e franco, mas vivíamos felizes.

A casa que nós morávamos era construída de taipa, virada para o nascente, e um pé de cajarana cobria uma boa parte do terreiro da frente, além de outro, que mesmo sendo menor, protegia os fundos da cozinha.

Além do leite e do queijo a  nossa alimentação vinha da colheita de milho, feijão, jerimum, melancia, melão..., isso quando o inverno era farto, mais ainda, eram sacrificados bodes, galinhas, ou caças, quando nós resolvíamos desobedecer as ordens do meu pai
 
Foto: PEDRO NÉL PEREIRA
Por José Mendes Pereira
Meu velho pai. Pai que não nos maltratou, sempre estava pronto para resolver os nossos problemas e de quem dele precisava. Nunca aprendeu dizer o não a ninguém. Nunca abriu a boca para dizer palavras horríveis, sempre agradecia a Deus o bom e o ruim. Não queria que nenhum de nós filhos criasse desamizade com ninguém. 

O que ele queria era que nós vivêssemos em paz com todos, mesmo que alguém nos feríssemos, era para perdoarmos. Dizia ele que quem resolve coisas que venham machucar é Deus e mais ninguém. 

Saudades do meu velho pai. Se conversava com um filho não chamava de você, era o senhor. E o tratamento com  filha era: "A senhora ou a senhorita", igualmente com a minha mãe. Ele a tratava de senhora ou dona Antônia. 

Valeu meu pai! O senhor se foi para eternidade, mas tenho certeza que adquiriu um bom lugarzinho lá. 

Diz o poeta que morreu não é o fim. E se não é "O FIM", o senhor continua vivendo, mas a vida eterna. 

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Pedro Nél Pereira, era como ele gostava de ser chamado, o nome completo e seus netos, filho da Carminha Mendes: Pedro Neto, Ingrid Rocha Deyvid Thiago e Dayanna Magda
Pedro Nél e seus netos 

Pedro Nél Pereira, que ele não queria que nós fôssemos às matas para matar os animais, como preás, rolinhas, iguanas,  asas brancas, que nesse período existiam em quantidade, e para que elas fossem capturadas, o mais fácil era ao clarear do dia, escondido em uma tocaia, na beira do rio ou de uma lagoa, assim que elas pousavam para beber água, apertava-se o gatilho da espingarda, com certeza algumas delas ficariam mortas, e outras tentavam voar, mas infelizmente estavam baleadas, e eram capturadas facilmente.

Assim que o inverno terminava e fazíamos a colheita, a partir de Julho, estendendo-se até o início do ano seguinte, todos estavam ocupados com o corte de palhas da carnaubeira, exceto a lavoura, geralmente era uma das atividades mais produtiva para o camponês.

Foto
Antonia Mendes, filha e netos 

Lembro-me do momento das nossas refeições, e que não tínhamos mesa, e ali, ao redor de uma esteira fabricada com a palha da carnaubeira, sobre o chão, nós sentávamos em pequenos bancos, enquanto a minha mãe fazia a divisão do alimento, que à noite, geralmente era a coalhada com o pão de milho.

Mas antes, todos nós, em pés, rezávamos o "Pai Nosso", iniciado pelo meu pai, e ao término, todos abraçavam uns aos outros, mesmo que algum de nós tivesse tido uma confusão com outro irmão, era obrigatoriamente aquele abraço, isto era uma das exigências do meu pai. E era para ser cumprida; mesmo que ele não estivesse em casa, um dos filhos ou filhas iniciava o "Pai Nosso". 

Naqueles tempo, para quem era camponês o sofrimento era grande, já que não havia ajuda de prefeitos, governos..., só a graça de Deus e mais nada. Hoje é diferente. O homem do campo tem tudo, até mesmo carro em sua garagem. Mas muitos não sabem aproveitar a oportunidade que o governo dá. Aplicam a ajuda que recebem em coisas supérfluos, quando deveriam comprar gado, ovelhas etc.  

Mas dou os meus parabéns aos camponeses que tiveram sortes, e hoje vivem uma vida como a do homem da cidade. 

Minhas Simples Histórias
 
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Fonte: 

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