quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O esculápio

Por José Mendes Pereira


Já fazia dois dias que o jovem motoqueiro chegara à região de gente desnutrida e infeliz, montado em sua velha e desarrumada lambreta, fabricada no ano de 1964, conduzindo uma bolsa a tiracolo, um chapéu de abas longas, vestido numa jaqueta azul, e enfiado ao guidão, uma sacola preta.


Ninguém sabia nada sobre a vida do motoqueiro. De onde vinha aquele sujeito feioso, que mais parecia uma ruma de ossos em movimento? Tísico, com uma deformada corcunda. Quem o era? O que queria daquele lugarejo tão paupérrimo? Os moradores já censuravam que aquele indivíduo era um fiscal do governo, um espião das coisas do Estado, ou simplesmente um delinquente sem rumo e sem pretensões para o futuro, que  havia fugido de alguma casa de saúde, para pessoas com problemas mentais.

Mas, vez por outra, o motoqueiro ia ingerir uma dose de cana no bar da freguesia, e ao chegar, era observado pela freguesia, que o observava com  rabos de olhos maldosos.

O dono do bar, querendo saber um pouco sobre a sua vida perguntou-lhe:

- Por mal pergunta se não lhe incomoda, o jovem é de onde, e faz o que na vida? 

- Sou do Pernambuco do Lampião. Terra dos homens que não medem tamanho de bigodes de macho. Sou esculápio registrado, e filho da viúva do sargento "Mão Pesada".


O comerciante encerrou ali mesmo as suas perguntas. Já deduzia que, apesar do seu corpo de caveira, aquele jovem não era boa peça. E também nunca ouvira falar nesta tal profissão, "esculápio". Achava ele que, o jovem já tinha dito tudo, um marginal de primeira classe, filho de um homem com o apelido de "Mão Pesada", era sem dúvida, um perverso, um criminoso qualquer.

Assim que o jovem lambreteiro saiu do bar, o comerciante chamou a atenção dos fregueses, que tivessem cuidado! Aquela caveira humana dissera que era esculápio, e todos ficassem de olho nele, porque não era conhecedor de tal nome "esculápio".

Na verdade, o homem mais instruído no lugarejo era ele, o dono do bar. E se ele não conhecia tal nome "esculápio", o caveira poderia ser mesmo um marginal de primeira categoria.

Assim que a notícia espalhou-se pelas pequenas ruas do lugarejo, duas beatas que rezavam terços na capela organizou logo uma procissão. Era preciso logo. Só assim o jovem esculápio sairia da vila o mais rápido possível.

Em uma das reuniões no conselho comunitário, o presidente alertou aos moradores, que o jovem lambreteiro poderia ser um assassino cruel, e que todos evitassem manter contato com ele, só assim, ele iria se sentir excluído, e desapareceria o mais rápido possível do lugar.

No momento em que acontecia a reunião no conselho comunitário, o médico que dirigia um pequeno posto de saúde, ao descer do automóvel, estava acompanhado do jovem lambreteiro. Os presentes ficaram assustados e se perguntando? Por que o médico de nome e renome se mistura com um sujeito tão feio e perigoso assim?

Entraram. O médico pediu a palavra ao presidente do conselho, pois precisava apresentar o novo funcionário do Posto de Saúde. E deu início dizendo-lhes:


- Meus amigos! Este jovem que me acompanha e que está ao meu lado esquerdo, será o novo médico de vocês nesta comunidade. Ele é um dos maiores e capacitados médicos que já apareceu no nosso Estado. Formado pela USP - Universidade de São Paulo. Espero que todos vocês  o recebam com muito carinho.

Todos ficaram de boca aberta, pois jamais esperariam que um sujeito tão feio, magro, com aspecto tuberculoso, desajeitado, sem presença física, além do mais com uma horrível corcunda, chegara a ser médico. As aparências enganam.

Esculápio significa "Médico".

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