Cruz. Nasci na Fazenda Barra, Município de
Augusto Severo – RN (hoje, Campo Grande) e logo, ainda criança, aos seis anos
de idade, iniciei a fazer tarefas próprias dos povos do campo na agricultura
Plantação de Arroz
Meu primeiro trabalho foi pastorar uma plantação de arroz na vazante
do meu pai, no Açude do Morcego, no final do ano de 1957. Acordava sedo, pois
tinha que chegar à vazante primeiro que os passarinhos. Embora o local de
trabalho fosse há poucos metros de casa, eu não podia sair, porque os
passarinhos chegavam aos rebanhos e atacavam os cachos de arroz. Para
espantá-los, meu construiu uma “funda” para jogar torrões nos pássaros. Trabalhei
até ao final da colheita para ganhar um par de alpercatas e rabicho.
Criação de Gado, Cabras e Ovelhas
O meu segundo trabalho foi pastorar gado ao redor das
vazantes nas margens do Açude do Morcego, pois, meu pai pretendia engordar uma
vaca preta por nome de Jarina para vender e comprar uma máquina de costura de
pé para minha mãe que era costureira e usava uma pequena máquina de mão.
Depois, a vaca foi vendida e a máquina Merckswiss foi
comprada na cidade de Janduís por C$ 1.500,00 no inicio do ano de 1959.
A dificuldade de encontrar ração para os animais era muito
grande por causa da seca. Com o inicio das chuvas em 1958, nasceu pastagem
entre os galhos de árvores que se encontravam amontoados no campo. Eu me
levantava cedinho, comia leite de cabra com cuscuz ou farinha, e acompanhava as
ovelhas e cabras para o campo aonde eu ia retirar os galhos de árvores para os
animais comerem as pastagens que crescia entre os galhos secos das árvores que
meu pai tinha cortado quando tirava madeira para fazer a reforma das cercas da
propriedade. Era uma missão muito difícil, pois, requeria muita força para
puxar os galhos das árvores. E eu sendo muito pequeno, tinha esta dificuldade.
Após remover os galhos, os animais faziam a maior festa. Passado as primeiras
chuvas, a seca foi instalada e só voltou no inicio de 1959. Ao meio dia, eu
retornava para almoçar e passar o resto dia brincando com um carro de boi que
tinha comprado por Cr 10,00. Com as primeiras chuvas, houve uma boa safra de
frutas de juazeiro que eu colhia e levava para casa para dá aos meus irmãos.
Eram frutas grandes e doces, que eu nunca tinha visto. Minha mãe acordava sendo
e ia para as vazantes colher as folhas secas que ficavam por baixo das ramas de
batata para dar de comer aos animais. Certo dia, uma pessoa havia deixado um
carro de mão em nossa casa e minha mãe me mandou buscar os sacos de folhas de
batata e eu levei o carro de mão. Como tinha que subir uma, na chegada de casa,
eu não conseguia empurrar o carro. Por causa disso, demorei a acabei levando
uma boa surra para subir a ladeira empurrando o carro de mão. Outro dia, meu
pai estava construindo uma cerca na frente da casa e já tinha feito os buracos
para fixar as estacas quando me disseram que as vacas estavam passando para as
vazantes. Era a hora do almoço. Eu corri chupando um pedaço de madeira do cabo
de uma baladeira que minha mãe tinha encontrado nas vazantes quando retirava as
folhas para alimentar os animis. Ao passar pelos buracos da cerca, escorreguei
e cai com um pé dentro do buraco e bati com a cara no chão. O pedaço de madeira
perfurou o céu da boca e botou muito sangue. Meu pai foi à cidade de Augusto Severo
e comprou 6 injeções que foram todas aplicadas por um senhor chamado por Jeová
Liberato.
Por causa da seca, tivemos que permanecer no Açude do Morcego
até achegada do inverno em 1959, quando retornamos para a nossa antiga morada
na Fazenda Barra de propriedade de Otoni Fernandes Maia, as margens do Rio Upanema.
Como já estava mais crescido, continuei a trabalhar na lida
com o gado. Conduzir as vacas para o curral, amansar bezerros bravos, cavalgar
no campo, época em que sofri várias quedas de cavalos chegando a passar muitos
dias doente. Depois, passei a auxiliar na ordenha das vacas, tendo que acordar
cedo, coisa que eu sempre detestava. Finalmente, passei a fazer a ordenha
sozinho.
Na roça, meu principal trabalho era puxar boi para aradar o
solo ou mesmo manobrando o cultivador, um serviço muito pesado que me exigia
força e habilidade.
No final do dia, o cansaço dominava o corpo. No dia seguinte,
acordava cedo e tudo recomeçava.
Caçada e Pescaria
Quando tinha tempo, pegava o anzol e seguia para o Rio
Upanema pegar traíra à sombra das oiticicas, escutando o canto dos pássaros que
chegavam para beber água e comer as frutas das oiticicas. Sempre encontrava um
pescador que contava estórias de fantasmas que eles viam pescando nas águas do
rio botando muitos pescadores para correrem.
Gostava de caçar passarinhos de baladeira, armar pedra e fojo
para pegar preá. Construía açudes nos
pequenos córregos que recebiam nomes dos açudes como Orós, Itãs, Aroeira,
Serrote, etc. Nadava nas correntezas do rio com muita habilidade.
Certo dia, eu fiz uma
proeza inusitada, pois, conseguir derrubar 7 cavalos com um tiro de baladeira.
Para muitos, mais uma estória de caçador, para mim, uma verdade absoluta. Esta
fica para você imaginar como pode ter acontecido esta fatalidade.
Bicicleta
Tinha um grande sonho de criança que era comprar uma
bicicleta. Em 1961, uma Merckswiss, aro 26, custava, na Casa Oliveira, do Senhor João Pereira, Cr$ 22.950,00. Sonho que
somente foi realizado em 29 de agosto de 1980, quando trabalhei no Censo do
IBGE, em Augusto Severo, e comprei uma bicicleta MONARK, na Loja Paula Irmãos Comércio S/A, em Mossoró,
por Cr$ 10.500,00, que ainda encontra-se comigo, guardada com muito zelo. Tinha
cor original verde, mas, depois, foi pintada com a cor vermelha. Chassi Nº
309689 e Nota Fiscal Nº 011676. Forma de pagamento: Entrada de Cr$ 2.000,00 e
cinco parcelas de Cr$ 1.700,00.
Pensando em um Futuro Melhor
Na esperança de um futuro melhor, resolvi abandonar esta luta
e segui para Mossoró, em agosto de 1969, onde fui estudar, deixando
definitivamente a vida do campo.
Em 1970, iniciei o Curso Ginasial. Em 1974, entrei para o Curso
Científico e em 1977 iniciei o Curso de Engenharia Agronômica na ESAM, que
concluir em julho de 1980.
Assim, dava inicio a uma nova fase de minha vida.
Antonio dos Santos de Oliveira Lima
Natural de Augusto Severo - RN
Residente em Cruz - CE
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