segunda-feira, 4 de junho de 2012

MÊS DE JUNHO, DE SANTO ANTONIO E DO MATRIMÔNIO





 "SE É JUNHO, O MÊS É DE SANTO ANTÔNIO... E É DO MATRIMÔNIO!” 

Junho, na Igreja Católica, é de modo todo especial, o mês do Coração de Jesus, uma das devoções mais conhecidas do nosso povo, das mais profundamente arraigadas e praticadas, haja vista o grande número de Congregações e Associações dedicadas ou conexas com o Coração de Cristo. Entre estas últimas, o Apostolado da Oração, existente em todo o mundo católico.
Não está separado desta devoção ao Coração de Cristo, o que agora, no Brasil toma corpo pela força da mídia televisiva: o devocionismo popular ligado ao “Traspassado”. Desta vez, a referência são “as mãos ensangüentadas de Jesus”, cuja novena diária vem atraindo a tantos em todo o país.
Mais uma devoção. Como as demais, tão cheia de expressões ricas de religiosidade popular. Se há algo a temer é tão somente o receio, bem fundamentado, de que não sirva apenas de pretexto para a exploração comercial da boa fé do povo católico, naturalmente aberto aos apelos sensacionalistas dos belos cânticos e dos meios de comunicação. É conhecida, e bastante longa e bela, a evolução histórica do culto ao Coração de Cristo. Quem comenta o assunto é o cardeal  arcebispo emérito do Rio de Janeiro, dom Oscar Scheid, em artigo divulgado na imprensa: “Origina-se, escreveu ele, do Antigo Testamento, que coloca o coração como sede da nossa sabedoria, dos afetos e sentimentos. No Novo Testamento, o coração aparece como o centro do conhecimento e da doutrina de Jesus, contrária e oposta à doutrina rígida e sem caridade que fariseus, muitos doutores da lei e escribas ensinavam. Jesus agradece ao Pai por ter revelado seu mistério aos pequeninos e humildes. Ele revela que veio para que se tomasse conhecimento, através de seu Coração, do mistério de Deus, bem próximo ao povo, quando disse: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas”, nos apontando as disposições evangélicas da mansidão, da humildade, da pequenez, do espírito de serviço.
Essa contemplação consciente do Coração de Cristo, traspassado, remonta à Idade Média, com a ida dos Cruzados e através das diversas outras peregrinações à Terra Santa, quando entraram em contato com a realidade da vida humana de Jesus. Então, começaram a se concentrar muito na sua Paixão, com todas aquelas terríveis machucaduras: pela flagelação, a coroação de espinhos, as chicotadas e quedas debaixo da cruz e, mais que tudo isso, com suas mãos e pés perfurados pelos lancinantes pregos. Surge, assim, a devoção às Santas Chagas do Senhor. Dentre elas, visualizaram o maior significado na chaga central, a qual resumia todo o Seu sofrimento, chegando ao Coração de Cristo, onde se detiveram: “Olharam para O Traspassado”. Há a fase dos Santos Padres, a dos grandes místicos, Doutores da Sagrada Escritura, que descobriram, concentrada nessa chaga do Coração, a síntese de tudo o que Jesus sofrera e ensinara. Reconheceram que todos os benefícios da Redenção vieram desse Coração aberto. Assim, desenvolve-se a teologia, a mística e a espiritualidade do Coração de Cristo. A Escola dos Jesuítas fez com que a devoção fosse quase que central, dentre as devoções que havia em torno da Pessoa de Jesus e do Seu Mistério.”.
NÃO SÓ DE FOGUEIRAS  E BUMBAS-MEU-BOI...
Não só do Coração de Jesus vive o mês de Junho. Nem só de fogueiras  e bumbas-meu-boi. Também vive das festas dos santos Padroeiros, bem do gosto do povo.  Também de procissão.  Entramos no  mês de Santo Antônio, de São João, de São Pedro. Também, e, em caráter especialíssimo, uma  obrigação até, junho é mês da Procissão do Corpus Christi.
Os Santos populares, o Coração de Jesus e a Festa do Corpus Christi gozam da admiração e louvor das mais categorizadas vozes que animam a caminhada pastoral da Igreja. Já as “fogueiras” e os “bois”, os “espelhos adivinhos” e os casamentos da roça, são pura religiosidade  popular. Mas não deixam de ter o seu valor cultural. Como cantaram, agora, na Rádio 6 de Abril, os violeiros: “Se é junho, o mês é de Santo Antônio... e é do matrimônio!”. 
Corpus Christi, que vamos celebrar no próximo dia 7 (quinta-feira), no Brasil, desde algum tempo, é  até um feriado nacional. Por ser dia de Procissão, envolvendo milhares de pessoas em todos os recantos do país, motivou certamente a decisão de nossos legisladores que, na época, não se deixavam influenciar pela constitucional laicidade do Estado brasileiro, consideração hoje tão em moda.
Assim é que nesta quinta-feira, com gente vinda de todas as comunidades, as cidades do Brasil se encherão de fiéis católicos que virão festivamente, com artísticos painéis decorativos espalhados pelas ruas e calçadas, participar do grande louvor público da Igreja à Eucaristia, como presença real de Jesus. Será a “Procissão do Corpus Christi” (O Corpo de Cristo).
PRESENÇA REAL DE JESUS - SÓ PARA CATÓLICOS E ORTODOXOS
Assim como no ato de comungar na Missa, quando o padre nos apresenta a hóstia consagrada anunciando: “O Corpo de Cristo”, e logo dizemos: “Amém”, a procissão da próxima quinta-feira é o  “Amém” coletivo de milhões de vozes proclamando que Ele está, eucaristicamente, no meio de nós.
Falar da Eucaristia é falar de mistério, de algo fora do alcance da compreensão da razão e da investigação pelo conhecimento da ciência humana. E porque cremos, assim poderemos, dia 7, nas ruas e praças de nossas cidades e vilas, cantar: “Bendito e louvado seja o Santíssimo Sacramento!…”.
Para católicos e ortodoxos, não para os “crentes” e “evangélicos” em geral, o pão e o vinho da Missa são realmente presença de Jesus. Presença eucarística, é claro! Não presença física como, judeus reticentes, em Cafarnaum, puseram em questão, ao ouvirem o discurso de Jesus. Presença eucarística. Não simples lembrança dele como, a partir de Lutero e a quase totalidade de seus seguidores de hoje, pensam os outros cristãos que não pensam como os católicos e os ortodoxos.
Está no Bíblia que Jesus preparou-se para entregar à sua Igreja o memorial da salvação que ele iria conquistar para a humanidade: a Eucaristia. A Igreja sempre falou do pão e do vinho da Missa assim: “é a presença real de Jesus”. Esta é uma das verdades centrais ensinadas pela Igreja Católica. Num mundo de virtualidades possibilitadas pela internet não perdeu a sua atualidade sustentada também por milagres eucarísticos, especialmente o de Lanciano (Itália). A afirmação é até um dogma, para usar o termo técnico do linguajar teológico, mesmo se a expressão, diante de um mundo cuja característica básica é a mudança, pareça antiquada e nada condizente com o espírito da modernidade avesso a qualquer afirmação categórica.
Na história dos dogmas, que sempre está em evolução, está que a Igreja, ao longo de todos os tempos, colocou em evidência a Eucaristia. Desde o início, com os Apóstolos e as primeiras comunidades, até os nossos dias; desde a “fração do pão” de que fala Atos dos Apóstolos, um livro da Bíblia, até à Missa, Ceia do Senhor, ou Celebração Eucarística, para usar os termos de hoje.
As divergências se deram somente na compreensão, em nível racional, sobre como a transformação se dava. Aí entravam não mais a visão teológica, mas o olhar filosófico. As questões não eram de teologia da Eucaristia, mas, como ainda hoje pode acontecer, de filosofia da Eucaristia. Com razão, nós que cremos na Eucaristia proclamamos: “Eis o mistério da fé!”.
*Professor do Instituto de Teologia e Pastoral (ISTEP) e Pároco de Cruz.

Postado por Dr. Lima
Cruz-CE

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