domingo, 10 de novembro de 2013

O decepador de cabeça humana

Por: José Mendes Pereira
José Mendes Pereira

Chegou à cidadezinha  montado num velho e desnutrido jumentinho. E logo os curiosos rodearam o homem de barba grande, com botas alongadas, chapéu  de palha, e uma enorme sacola sobre a pequena sela de montaria. Todos estavam ali rindo do infeliz mendigo, que ao ver tanta humilhação contra si, saiu em busca de um bar, e lá, pediu, por favor, uma urgente e  caprichada pinga. 

O dono do boteco nem sabia a quem estava atendendo. Mas resolveu colocar no copo uma caprichada pinga. Os curiosos acompanharam-no até a venda.  O mendigo bebeu a primeira, e em seguida, pediu bis.

O dono do bar fez gesto de que não estava gostando, imaginando que iria dançar na hora em que fosse cobrado o acerto de contas. E assim que o mendigo ingeriu a segunda dose, de imediato, pediu a terceira.

O sangue nas veias do velho comerciante esquentou de vez. E foi obrigado a  dizer ao mendigo que só colocaria a terceira dose, se ele pagasse logo as duas primeiras.

Os curiosos estavam todos em risos, e até um deles ameaçou o barba grande, dizendo que se ele não pagasse as doses de cachaça ao comerciante, não iria sair dali com vida. 

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O mendigo concordou pagar logo as duas chamadas. Foi até ao seu jumentinho, retirou uma enorme sacola que estava sobre ele, e era nela que ele guardava o seu dinheiro. Em seguida retornou para fazer o pagamento das chamadas ao comerciante. E pôs-se a procurar o dinheiro no meio de tantas bugigangas. Enfiou a mão na sacola e ficou tirando algumas peças. Em seguida, retirou uma cabeça  humana cheia de sangue, colocando-a em cima do balcão.

  
Cabeça do capitão Lampião morto no dia 28 de Julho de 1938 - no Estado de Sergipe

O comerciante ao ver a cabeça coberta com sangue e com os olhos fechados, admirou-se, dizendo em tom de susto e tremendo:

- Meu Deus!!! Que coisa triste, hein!!!

- Eu faço este trabalho muito bem e com perfeição. - Dizia o mendigo. - E adoro fazê-lo. Durante a semana são duas, três, até mais cabeças. Mas melhor do que eu, quem o faz, é um passeiro meu, o "Negrão das Cavernas". Ele desceu aqui em busca do mercado central, e me disse que iria procurar vítimas, para ver se negocia umas duas ou três cabeças.

O comerciante de tanto tremer, não resistiu mais em pé, saiu desmaiando por cima de uma porção de mercadorias que estava sobre o chão. Os curiosos desapareceram em disparada carreira, e aos gritos, pelas ruas, pedindo clemência. A partir daí, a fama do homem barbado e do "Negrão das Cavernas" aumentou no lugarejo. 

Um velho que no momento entrou no bar, ao ver aquela terrível cena, isto é, a cabeça de um corpo humano sobre o balcão, ajoelhou-se diante do mendigo, pedindo-lhe que pelo o amor de Deus não o matasse. E o mendigo ficou sem saber o porquê daquela imploração do velho, pedindo-lhe  que não o matasse.

Os moradores da cidade, ao tomarem conhecimento do perigoso mendigo e do "Negrão das Cavernas", que haviam entrado na comunidade, entraram em choque, procurando por todos os lugares os seus filhos e parentes, temendo que eles fossem degolados pelos facínoras.  

Logo que as mulheres ficaram sabendo da presença de dois delinquentes na cidade, corriam pelas as avenidas do lugarejo, em lastimosos choros, procurando por todas as entradas os seus filhos pequenos.


O prefeito quando recebeu a informação que na cidade tinha entrado dois perigosos marginais, recolheu-se à prefeitura, ligando para tudo que era de autoridade, que cuidasse de prender com urgência os assassinos. 

Além do contingente da cidade o prefeito solicitou dos administradores das cidades vizinhas, que liberassem os seus policiais para tentarem prender os dois bandidos 

- Os homens são perigosíssimos, amigos! - Dizia ele pelo telefone aos prefeitos das cidade adjacentes. Andam com cabeças humanas degoladas dentro das suas sacolas! Uns homens desse tipo estão com o capeta nas costas, e poderão bagunçar a minha cidade e depois invadirem as suas. Com a ajuda de vocês, prenderemos estes delinquentes" 

O dono do açougue (o Ludugero), ao ser informado da entrada destes criminosos no lugarejo, foi curto e grosso. "-A culpa é do prefeito que não põe mais policiais nas ruas.  Ele só pensa em si. Aos domingos, se manda com a família para as praias, como se fosse o governador do Estado".

A cidade já imaginava a quantidade de defuntos que iria ficar estirada nas ruas, depois que o mendigo e o "Negrão das Cavernas" saíssem do lugar.



Os coveiros do cemitério já haviam recebido ordens para cavarem covas em quantidade. Os dois homens eram perigosíssimos, e com certeza, muitos moradores iriam perder as suas vidas sobre as miras das suas armas, ou nas pontas dos seus afiados facões. 

Chegaram praças de todos os lugares. E obedecendo a exigência do prefeito, de imediato, morrendo de medo, os policias ocuparam os fundos e a frente do bar.  E aos poucos, com muito cuidado, vendo a hora surgirem balas disparadas pelo barba grande, que naquele momento, ali, só se encontra ele, todos foram fechando o cerco, e ao se aproximarem do infeliz, deram ordens de prisão. Assim que o algemaram,  acusaram-no de decepador de cabeça humana.

O mendigo tentava explicar quem ele era, mas a polícia não quis conversa, obrigando-o colocar a cabeça dentro da sacola, e que ele iria ser conduzido até a delegacia, para as devidas explicações ao delegado.


Ao entrar na delegacia, de imediato ele recebeu um pescoção, aplicado pelo delegado. E um tenente que nem estava de serviços, não demorou muito para bofeteá-lo diante do delegado.

Exigido a comprovação do crime, o mendigo retirou a cabeça humana de dentro da sacola. O delegado ficou rodeando-a, e observou que ela nem sangrava, apenas ainda permanecia como se tivesse sido decepada recentemente. E como inteligente e um pouco de psicologia, o delegado percebeu que não tinha nada a ver com cabeça humana.

Os dois homens não eram mendigos e nem marginais.  Devido viveram andando pelas ruas, as roupas eram como de mendigos. Eram apenas  dois escultores em madeiras, que faziam as suas peças e saíam à procura de compradores. Ambos eram grandes talhadores com muita perfeição e enganava qualquer especialista. Até a pintura, tinha aparência de sangue vivo.

"Antes de julgarmos uma pessoa devemos esmiuçar a sua vida com cautela, para que ela não venha ser castigada injustamente  e  moralmente ofendida".


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Fonte:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

Autor:
José Mendes Pereira

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