sábado, 23 de agosto de 2014

Fofoca só traz desgraça

Por José Mendes Pereira

Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano:

Hoje não vou falar sobre nós e nem sobre a Casa de Menores Mário Negócio, apenas sobre um fato interessante que aconteceu em anos remotos em Mossoró, e eu não conheci os personagens da história que segue, apenas fora contada por pessoas da milha família e outros mais.

Galego da Catarina como era chamado por todos os seus conhecidos, e este apelido nada mais foi criado porque a sua mãe se chamava Catarina; e que ninguém jamais soube o seu verdadeiro nome, e muito menos aonde residia em Mossoró. Para muitos, Galego da Catarina morava no seu próprio chapéu, isto é, não tinha residência fixa. Mas outros afirmavam que ele se fazia de mendigo, pobre coitado, mas que era dono de sua residência lá pras bandas do bairro Cajazeiras em Mossoró. A sua atividade era reparar tarrafas e redes de pescadores, e vez por outra fazia pescas nos rios de água doce.



Galego da Catarina era um sujeito que tinha a língua muito grande e afiadíssima. Falava de boca aberta de Deus e do mundo, sem respeitar ninguém, principalmente quando  se tratava de honras de moças e mulheres casadas. Para ele, falar de moças e mulheres casadas era como se fosse o seu alimento, era um bom prato, fosse ou não verdade, estava sempre mexendo com filha de Fulano, de Sicrano e de Beltrano. Era um devorador de honras. E ainda afirmava que falava porque elas não se davam ao respeito. Mas Galego da Catarina poderia pagar caro a qualquer momento pelas suas calúnias e infâmias contra à classe feminina.

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O Isidório que residia no ainda não tão famoso e falado Alto de São Manoel, indivíduo que mais parecia um homem do tempo da pedra lascada, das cavernas, não temia nada, e que já tinha puxado cadeia, por ter dado uma surra em um carroceiro, por não ter acertado uma pequena dívida que lhe devia, afirmava que o Galego da Catarina dizia certas coisas com algumas moças e mulheres casadas, só porque elas não tinham pais e nem maridos homens. E até duvidava de uma possível calúnia criada pelo Galego da Catarina contra uma das suas filhas. Ele que tivesse cuidado!  Iria ver o mar balançando as suas águas na vertical.

Mas Galego da Catarina não ligava para outros pais de moças e maridos de mulheres que tinham fama e dinheiro, muito menos para um bestão como era o Isidório, que não sabia nem o que dizia; sujeito que só conversava besteira, e além do mais, frouxo que fazia dó.

Aconteceu que uma das filhas do Isidório fora premiada pela maldita língua do Galego da Catarina, quando afirmara a alguns conhecidos que vira a Rosinha do Isidório no Alto do Louvor,no Cassino Copacabana, em Mossoró, acompanhada com o chefe carnavalesco, e que ela estava dançando 
striptease.


Boate Copacabana, na Rua Marechal Hermes. 1969 -  telescope.blog.uol.com.br

Pura mentira! A Rosinha jamais se ausentou de casa só. Sempre estava acompanhada das amigas Cristina e Sandy, as quais residiam na mesma avenida, e que ela nem sabia aonde ficava esse tal de Alto do Louvor. 

Os que mantinham amizade com o Galego da Catarina sempre lhe dizia, que evitasse aquela conversa ridícula contra a filha do Isidório, e que se ele soubesse disso, com certeza o Galego iria pagar muito caro pelas suas acusações.

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Como sempre tem alguém que não quer calar, não quer deixar ninguém inocente, sem muita demora o fuxico chegou aos ouvidos do Isidório, o desrespeito praticado pelo o Galego da Catarina com a sua amada filha Rosinha.

Certo dia, o Galego da Catarina passeava livremente pelas calçadas do bairro, e por má sorte, encontrou o Isidório, que ao vê-lo, pediu que fosse até à sua casa para ver se havia possibilidade de reparar urgente uma de suas tarrafas.

O Galego da Catarina nem imaginava o que dissera contra a sua filha, e assim foi atender o chamado do Isidório, já imaginando quanto iria cobrar pelo serviço prestado ao homem que não demorava lhe fazer algo.

Ao chegar, encontrou o Isidório espanando um fogaréu, e de imediato ordenou que se sentasse, pois logo iria apanhar a tarrafa para ele ver se ainda tinha condições de um reparo. E assim que o fogo levantou-se entre à lenha, Isidório dirigiu-se a um depósito que ficava afastado da casa, mas bem próximo. Sem demorar, já veio trazendo a dita tarrafa, entregando-a ao Galego da Catarina para examiná-la. Revisada a tarrafa, o Galego virou-se para o Isidório dizendo-lhe:

- Ela já está muito surrada, mas com paciência eu farei o serviço sem deixar falhas.

E aproximando-se do Galego da Catarina, com uma faca afiadíssima em uma das mãos, Isidório perguntou-lhe:

- Bichinho, me falaram que você anda dizendo coisas ridículas com a Rosinha minha filha?

- Eu não, Isidório! - respondeu ele já trêmulo. 

E olhando por sobre uma janela, Isidório chamou um capanga que estava lá fora, já preparado para uma possível execução. E ao chegar, o capanga agarrou-o, inquiriu as mãos para trás com uma corda. Em seguida, amarrou-o em uma forquilha que sustentava uma cobertura de telhas. Isidório veio até o Galego, e com a faca, cortou uma das orelhas do castigado.
 O Galego gritava, chorava, sentindo as piores dores, o sangue escarlate banhava todo o seu corpo. 

- Você já entendeu o que isso significa, sua praga!? - Perguntou-lhe o Isidório.

O Galego nem teve tempo de responder, porque chorava em desespero. Isidório enfiou a orelha do castigado em um espeto, levando-a ao fogo. Assada, obrigou que o Galego a comece. Mas o Galego rejeitou, dizendo que morria, mas não comeria sua própria carne.

Isidório também não era boa bisca, como diz o ditado, gostava também de fofocar alguns assuntos ridículos que apareciam pelo bairro. E querendo saber algum decepção de alguém, propôs ao Galego da Catarina, que se ele dissesse uma fofoca de alguém ele o soltaria com vida.

Sabendo que poderia ser salvo, resolveu contar duas que soubera. E olhando para o Isidório, mesmo chorando, disse-lhe:

- Uma que eu sei é que a irmã Larissa está grávida.

- Irmã Larissa está gravida!?  - Perguntou o Isidório em tom de susto, ignorando o seu desrespeito com Cristo, vez que ela era uma namorada de Jesus. 

Em seguida, perguntou-lhe:

- E quem é o pai?

- O pai é o Padre da Paróquia.

E vai me dizendo a outra fofoca que você sabe.

- Eu sei sim, mas todos já sabem da mais nova fofoca.

- O leiteiro está passando a sua mulher.

- O quê? - Fez Isidório.

- Você queria ouvia verdade, aí está.

Ao saber desta fofoca contra a sua mulher, o Isidório não meditou se era ou não verdade. E saiu em busca da casa que ficava ao lado onde eles estavam.

Ao chegar, encontrou a pobre mulher dividindo o corpo de uma galinha que acabara de matar. E sem lhe perguntar nada, arrebatou a faca da sua mão, enfiando-a sem piedade no peito da esposa, fazendo-a cair sufocada no meio de uma porção de sangue que saía do seu peito.

Vendo-a jogada ao chão sem vida, Isidório saiu às pressas de dentro da casa, e foi-se embora. Nunca mais fora visto em lugar nenhum.

O Galego da Catarina sabia que fora o culpado, fazendo o mesmo. Desapareceu do lugar, apenas deram vagas notícias que estava residindo no Estado da Paraíba, em companhia dos familiares. 

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