Por: Rangel Alves da Costa
Nos últimos tempos, o mundo cangaceirista tem andado preocupado com a saúde do velho guerreiro do sol, hábil pesquisador e expoente das vinditas bandoleiras, principalmente da tocaia onde ainda se entrincheira o fenômeno cangaço. Fale sobre Alcino, o mossoroense José Mendes Pereira me pediu ainda ontem.
Conforto Mendes e outros amigos que se avolumam pelas terras nordestinas, historiadores de cerco, cangaceiristas de rastro e sede, pesquisadores famintos pela verdade e conversê intrigante, afirmando que o homem, mesmo que ainda esteja em plena recuperação de duas cirurgias quase que seqüenciadas, continua na sua gruta nordestina de sempre: Poço Redondo.
E o melhor, fazendo o que a história lhe incumbiu de cavar e o sertão lhe implorou como filho: ouvindo, assuntando, perguntando, tirando conclusões e esboçando sua síntese fenomenológica nos livros que incessantemente escreve. Pois continua com sede de escrever o danado do Alcino, abrindo velhos baús e tirando de lá preciosidades que o mundo sertanejo precisa conhecer sobre si mesmo.
Nem bem fez o lançamento do livro “Lampião em Sergipe”, no dia 19 de outubro em Aracaju, na última segunda-feira, dia 07, aproveitou que veio fazer exames médicos e já apareceu em casa com a prova de um novo livro, este intitulado “João dos Santos - O Caçador de Curituba”.
Não obstante tamanha força e obstinação, os problemas de saúde surgidos foram realmente preocupantes, dado o quadro clínico e a complexidade do primeiro procedimento cirúrgico. Depois da recuperação desta, teve ainda que se submeter recentemente a outro procedimento mais simples, porém ainda relacionado ao anterior. Dessa vez deixou o hospital em dois dias e no dia seguinte já estava avexado, totalmente agoniado para voltar ao seu Poço Redondo. E assim o fez.
Só retornou a Aracaju ao anoitecer do domingo porque era o jeito, eis que na segunda-feira teria que retirar os pontos. E só vem à capital se for amarrado, como se diz por aqui. Se não surgir algo que realmente reclame a sua presença, podem ter certeza que somente será encontrado no seu sertão, caminhando por aquelas ruas, ouvindo suas músicas sertanejas, escrevendo sobre as diabruras de tantos guerreiros, tecendo em páginas o perfil do sertão, do seu povo e sua história.
Mas com relação à plena recuperação, somente os desígnios divinos e o tempo dirão. Eu, que sou filho, não sou mais menino, que dirá aquela raiz vingada no ano 40 no terreno fértil de Dona Emeliana e Seu Ermerindo? Infelizmente, as doenças aproveitam a idade, o desgaste do corpo e as atribulações vividas por cada um para se instalar no organismo. Mas também eis o sal da vida, uma forma de se lutar mais ainda para se vencer essas visitas inesperadas.
Só Deus sabe como ele se sente por dentro. Mas não pela doença que quis testar sua resistência, e sim a cada vez que recebe o conforto de um amigo, sente a preocupação de um irmão nordestino, sabe dos muitos que realmente oraram e continuam em preces pela sua plena recuperação. Nunca foi de chorar, mas como meninão sertanejo, tenho certeza que lacrimeja internamente toda vez que recebe um telefonema de um cangaceirista de proa, um e-mail de um pesquisador angustiado, uma carta de um sertanejo, uma visita.
Enquanto filho, resta-me agradecer a preocupação verdadeiramente devocionária demonstrada por todos, do Cariri ao Mossoró, do Pernambuco a Bahia, cortando essas fronteiras nordestinas e do Brasil, apenas dizendo que se um dia a pedra, o rochedo, for transformada em pó, ainda não será tão breve o momento de ver a ventania levar tais resquícios.
Se um dia houver um encontro marcado entre
Aderbal Nogueira e Alcindo
Alcino e Lampião, certamente que o Capitão haverá ainda de esperar muito.
Mas por consolo deste, o velho rochedo sertanejo continuará escrevendo sua história com a fidedignidade daqueles que sempre tiveram compromisso com a verdade.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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