segunda-feira, 31 de março de 2014

TIRO DE GUERRA DE MOSSORÓ - Parte I

Por: José Mendes Pereira


Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano: 

Se a Casa de Menores Mário Negócio foi para nós um divertimento de bagunças, sem prejudicarmos ninguém, igualmente foi o Tiro de Guerra,

Tiro de Guerra de Mossoró - jotamariatirodeguerra.blogspot.com 

que  nos divertíamos a cada momento, muito embora lá não só foi flores, passamos por provas difíceis, como os chutes nas nossas canelas que vez por outra nós recebíamos dos sargentos quando errávamos os passos nas sofridas marchas, e os treinos de guerra nas imediações do campo de futebol Estádio Manoel Leonardo Nogueira.


O futuro Nogueirão de Mossoró - http://www.robsonpiresxerife.com 

No ano de 1970, todas as madrugadas, de segunda a sexta, você e eu saíamos da Casa de Menores Mário Negócio em direção ao Tiro de Guerra, para cumprirmos aqueles malditos ensaios de guerrilheiros, administrados pelos sargentos: Moura, Everaldo e Gumercindo. 

O sargento Moura (1º. sargento), tinha uma aparência meio esquisita, alto, magro, de olhos azuis, de cor galegada, e mantinha a ordem com severidade, mas na verdade, quando estava a paisana, era uma boa pessoa, que nos atendia como se nós fôssemos seus amigos.

Este fora apelidado pelos atiradores de "Cogumelo", e pelas suas aparências, já passava dos 50 anos de idade. Era encarregado da 1º. turma de atiradores, e residia na sede do TG.

O sargento Everaldo (2º. sargento), era baixo, de corpo largo, moreno, irritado e bastante moralista. Pouco falava com nós, atiradores. Qualquer erro praticado por um recruta, aquele já estava escalado para fazer faxinas no TG, limpando janelas, varrer a quadra, limpar banheiros etc. E um dos que mais fez aquele trabalho, sem dúvida, foi você. Meia volta, volta e meia, você estava escaldo para fazer faxinas. Mas você não deve culpar ninguém, merecia, devido as suas brincadeiras.

O sargento Everaldo ganhara o apelido de "Toco de amarrar onças". Aparentava ter menos idade do que o sargento Moura, e era encarregado da 2º. turma, com 50 atiradores. Além do sargento Moura ele  também residia na sede do TG.

O sargento Gumercindo (3º. sargento), este estava no começo da vida, com 25 anos de idade, e de estatura média, meio atlético, moreno claro, de voz grossa e lenta, amigo de todos os recrutas, e que algumas vezes ele escondeu falhas de atiradores. Residia no antigo Grande Hotel em Mossoró. Por duas vezes eu fui incumbido de levar do TG uma de suas pastas, que me parece que à noite anterior, ele havia dormido por lá.


Grande Hotel - telescope.blog.uol.com.br 

O sargento Gumercindo era encarregado da 3ª. turma de atiradores, sendo nós dois, comandados por ele, e que muitas vezes se irritou com alguns recrutas, mas logo estava de bem com todos nós. Ganhara o apelido de "É UM PÃO",  pseudônimo dado pelo atirador Luiz Mauro, amigo mais próximo seu. 

"É UM PÃO" era uma expressão que dava a entender que o jovem era quente mesmo,  criada pela juventude feminina nos anos sessenta e se estendeu até a década de setenta. Quando as jovens viam um rapaz lustroso, vamos dizer assim, de boa pinta, bonito, a moçarada o chamavam de "É UM PÃO". 

Sendo o atirador Luiz Mauro muito cheio de graça e gostava de imitar bichas (apenas ele se fazia), e como o sargento Gumercindo era jovem, com uma aparência de artista de cinema, ele deu esta alcunha, cuja, servia para acalmá-lo quando se irritava com a gente. Logo alguém dizia descaradamente: "É UM PÃO". Mas essa era a forma de ludibriarmos o sargento quando alguém ultrapassava os limites.

Com isso, o sargento Gumercindo se rendia e se desmanchava em risos, deixando os nossos erros para trás, sem nos entregarmos ao sargento Moura, que era o manda chuva do TG.

Foto: Que coisa, hein!

Nos anos sessenta - Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira
Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira - Tibau-RN 

Certa feita, numa madrugada de 1970, já bem próximo ao final da conclusão das nossas prestações militares com o exército, saímos da Casa de Menores já atrasados, que deveríamos chegar ao TG antes das cinco horas da manhã, e de lá, nós sairíamos em caminhadas até o local em que nós treinávamos tiros ao alvo, localizado ao lado da BR que segue para Fortaleza.


blogdomendesemendes.blogspot.com 

Quando nós chegamos ao TG, todos os atiradores e os sargentos já haviam seguido viagem, apenas o sargento Moura se encontrava lá. Ao nos vermos, ficou nos xingando, chamando-nos de dois grandes irresponsáveis, por termos chegado atrasados ao TG.


motorlight.blogspot.com 

Como ele iria no jeep, levando os fuzis, balas e outros equipamentos para os nossos treinos,  eu pedi que nos levássemos, já que a pé nós não chegaríamos tão cedo. 

O sargento Moura foi curto e grosso, dizendo que não nos levava, porque os outros atiradores haviam caminhado cedo para o locar de treino, e nós, usando irresponsabilidades, àquelas horas, ainda estávamos no terreiro do Tiro de Guerra.  E sem mais dizer nada, ligou o jeep e deu partida em direção ao ponto de treinamento. Eu gritei, insistindo, pedindo-lhe que nos levássemos no jeep até ao local de treino.

Como ele e os outros sargentos já viviam irritados com você, devido o seu péssimo comportamento, a resposta que ele me deu, que me levava, mas o 138, você, não iria no jeep de jeito nenhum.

Como nós morávamos na mesma  casa, e não querendo deixar você para trás, respondi-lhe que se não levasse  você, eu não iria com ele.

Ciente que eu não iria, novamente deu partida no jeep. Mas ele se arrependeu. Andou muito pouco, rendendo-se, e em seguida gritou, nos  chamando para irmos com ele.

O sargento Moura era professor de Educação Física no Colégio Diocesano, e iria passar lá para comunicar aos dirigentes que àquela manhã não iria dar aulas aos alunos, porque estava indo para os treinos do Tiro de Guerra.

Nós caminhávamos pela rua dos fundos do colégio, e lá, ele desceu, nos dizendo que iria até à secretaria do colégio para fazer o comunicado da sua ausência naquele dia, recomendando-nos que logo voltaria da secretaria.

Assim que ele desceu e abriu o portão do colégio nos recomendou, que uma porção de vacas que ruminava por ali, nós não a deixássemos entrar no quintal do colégio. Mas quando ele desapareceu da nossa vista o gado fez carreira e entrou na garra e na marra, sem que nós pudéssemos evitar aquela invasão do rebanho.

envolverde.com.br 

Ao sair do colégio e ao ver o rebanho de gado dentro do cercado, que na época era cerca, o sargento esbravejou, e quase nos engole, exigindo que nós colocássemos todos os animais para fora das dependências do colégio.

Sem outra solução, fomos obrigados a correr atrás dos animais, e sem muitos esforços, finalmente conseguimos expulsá-los de lá.

Mas o pior foi o castigo que recebemos lá no treino. Você, Raimundo, teve que passar várias vezes em uma cerca de arame farpado, rastejando, e do outro lado, um cocô de vaca estava te esperando, deixando-lhe todo sujo e fedorento.

Os sargentos te marcavam, Raimundo Feliciano, porque você não deixava ninguém quieto. Era um verdadeiro capeta. Foi uma grande sorte ter terminado o serviço militar em Mossoró, porque você foi condenado várias vezes para ser mandado para a tropa em Natal.

Eram 64 pontos de faltas que nós tínhamos direito, e agradeça de coração, que mesmo você dando trabalho aos patenteados, muitas vezes consideram a sua ausência, aliás, quase todas as suas faltas foram causadas pelo seu péssimo comportamento, mas sem prejudicar a ninguém, apenas irritava os sargentos. 

Minhas Simples Histórias 

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro. 

Fonte:
 http://minhasimpleshistorias.blogspot.com 

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