Por José
Mendes Pereira
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Uma mocinha de
pouco mais de 16 anos. De moreno claro, de olhos negros, cabelos longos
e pretos como a asa da graúna. Era uma verdadeira
"Iracema". Ninguém resistia o seu
olhar atraente, já imaginava coisas imorais. Além do mais,
tinha umas lindas coxas. Coisa de menina bonita. Nem parecia ser filha de
um homem feioso, magro, cabeça de coco, poucos dentes naturais, e alguns havia
adquirido no protético prático do bairro. Totalmente desajeitado,
como era o seu pai, o Elesbão.
Certo dia chegara do Rio de Janeiro um militar, o João Prado, todo enfiado
num uniforme do exército brasileiro. Era cearense da gema, mas desde menino que
viera para Mossoró em companhia dos pais. Aqui cresceu, e daqui foi servir o
exército no Rio de Janeiro. Ao ver a linda mocinha, que não havia
presenciado a rápida mudança em seu corpo, a desejou de corpo e
alma.
Os pais do João Prado eram vizinhos dos pais da Maria dos Anjos, mas
as amizades entre eles eram restritas, apenas algumas vezes faziam
reuniões nas calçadas.
Nesse dia o João Prado chegou a prosear com a mãe da Maria dos Anjos,
a Isabel, sobre a beleza da sua filha, chegando a mandar um
recado para ela, que fosse se arrumando que iria levá-la para Copacabana.
Boate
Copacabana, na Rua Marechal Hermes. 1969. Conforme relatos dos locais,
contemporâneos daquela época, as casas noturnas como a Boate Coimbra, e outras.
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Nos anos setenta, uma das boates mais falada em Mossoró era o Cassino
"Copacabana", no bairro Bom Jardim, situado nas imediações do Alto do
Louvor, lugar reservado para a prostituição de mulheres.
Assim que dona Isabel chegou em casa, participou a Elesbão, a
brincadeira que o João Prado dissera com sua filha, que fosse se arrumando que
iria levá-la para "Copacabana", e lá, ambos, iriam viver um belo
romance.
Elesbão ao ouvir a brincadeira do João Prado, ou talvez com intenções
verdadeiras, não disse nada, ficou calado, apenas engolindo o ódio que
atravessava em sua garganta, sobre o desrespeito do João Prado, com a sua filha
Maria dos Anjos. Ficou a imaginar que aquele sujeito metido a galã, estava
pensando que iria passar a perna sobre sua filha. Ele estava totalmente
enganado. Sim Senhor! Aquela filha era criada com carinho, filha única, e nada
lhe faltava. Era pobre, mas filha de um senhor honrado e trabalhador. Quantas
vezes saíra ao clarear do dia para o seu sofrido emprego, lá na fábrica de óleo
do Aderaldo, só para dar a sua filha o que ele não tivera, quando em companhia
do seu velho pai. Aquele sujeito só porque estava de uniforme do exército
brasileiro, agora se sentia como se fosse um galã de cinema, o Juliano Gema, o
Antonio Sthefane, o Marcos Damon... Enganara-se por completo. Sua amada filha
tinha um pai para protegê-la.
Ao anoitecer, Elesbão foi até à quitanda do Valentim, também próxima ao Alto do
Louvor; tomou umas quatro ou dez cachaças, não sei, e já meio tonto,
foi em casa. Pegou uma faca, mais um pedaço de mangueira
grossa, enviou-os na cintura, e foi ao encontro do João Prado, que palestrava
em uma das casas amigas.
Ao chegar, perguntou ao dono da casa, o Tiago das Oiticicas, como era
chamado no bairro:
- João Prado está aí, seu Tiago?
- Está -
respondeu Tiago das Oiticicas.
- Chame ele
por favor.
- João Prado,
Elesbão quer falar com você. - Gritou seu Tiago lá pra dentro
de casa.
E lá se veio inocentemente o João Prado.
- O que deseja seu Elesbão? - Perguntou-lhe João Prado.
- João Prado,
eu vim aqui porque você mandou um recado pela Isabel, para minha filha
Maria dos Anjos, que fosse se arrumando que iria levá-la para o
Copacabana. Como ela não pode vim, então eu vim para
ir junto com você ao Copacabana.
E sem mais pensar, desenfiou o pedaço de mangueira da cintura, mais a faca, e
a cunhou atrás do João Prado, descendo a ladeira do Alto do Louvor. E tome
peia, e tome peia.
Na carreira, as passadas do João Prado atingiam dois metros
de distâncias, ultrapassando as do seu agressor. Mas à frente depararam-se
com um muro de dois metros. Mas o agredido não contou conversa, saltando-o de
uma vez só. Nem precisou colocar as mãos para se apoiar e facilitar
o impulso sobre o muro. Foi aí que Elesbão resolveu não arriscar pular o
alto muro.
Enquanto o Elesbão corria atrás do João Prado, os amigos do Elesbão
corriam atrás dele, para que ele não realizasse o assassinato.
Todos que corriam atrás do Elesbão, gritavam:
- Não faça
isso, Elesbão! Não faça isso..., pelo amor de Deus!!!
Dias depois, o João Prado retornou às pressas para o Rio de Janeiro,
e nunca mais botou os pés em Mossoró.
O Elesbão não sabia que Copacabana é uma praia no Rio de Janeiro. Ele pensava
que o João Prado estava desconsiderando a sua filha, querendo levá-la
para o meio da prostituição, no cassino de Mossoró, "O
Copacabana".
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