quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Genésio Xavier, os beberrões e a garrafa de pitu



Por José Mendes Pereira

Genésio Xavier era conhecido pelos mossoroenses por “Genésio da barragem”, e havia  ganhado este pseudônimo, devido uma barragem que fora construída no leite do rio Mossoró em sua propriedade. Morava entre o bairro Alto da Conceição e os Carnaubais. Era um dos mais antigos comerciantes desta encantadora e amada cidade. O nosso conterrâneo viveu do comércio por toda sua vida, até que chegou o ponto de parar suas atividades, devido a visita já esperada da indesejada velhice, e era mossoroense de raízes plantadas nestas terras dos famosos índios Monxorós.

Índios Monxorós - http://pt.wikipedia.org/

Hospitaleira por excelência, mãe, e tem um coração de madrasta para aqueles que procuram um lugarzinho sobre o seu seio; terra de gente humilde, mas valente quando é necessário defender sua soberania. Lutou contra os malfeitores que queriam tirar a tranquilidade e a paz de uma jovem cidade ainda debutante. Mas ela soube muito bem defender e preservar o que é seu, o que lhe pertence, quando em 13 de Junho de 1927, obrigou Lampião e seu afamado e destemido bando de cangaceiros, saírem destas terras às carreiras. 

Lampião - http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Genésio Xavier era conhecido pela sua maneira de ser. Palavra dada, não a voltaria atrás, e não abria mão para nada e nem tão pouco para ninguém. Mercadorias fiadas do seu barracão só sairiam de lá, somente para pessoas que tinham responsabilidades, ligadas em algumas empresas, que tivessem um ordenado garantido, uma espécie de fonte ganhadora.

Mas segundo as pessoas que faziam parte da sua intimidade, afirmavam que Genésio não era o que ele aparentava ser, e se alguém tentasse ludibriá-lo, era possível vencê-lo, fazendo com que ele se rendesse à certas coisas que  antes não as aceitava. 

Sabendo das suas manias e preservações do que ele não aceitava de forma alguma, e que era tido como homem que não engolia cordas de ninguém, João Mutemba e Carlos Silva, que costumeiramente viviam de bares em bares ingerindo bebidas alcoólicas, e que seu Genésio não os conhecia, visto que eles moravam mais distante do seu barracão, combinaram para tentar convencer Genésio a lhes vender uma garrafa de cachaça, e com garantia de honrarem o valor  assim que eles recebessem dinheiro já ganho de alguém.

www.avozdavitoria.com

A tentativa dos dois foi da seguinte maneira: João Mutemba iria até ao balcão do seu barracão, e solicitava a venda de uma garrafa de cachaça, garantindo-lhe pagamento depois. 

O Carlos Silva ficaria por trás dele, e com uma das mãos e com o dedo indicador estirado, ficaria acenando para seu Genésio, indicando-lhe que não  vendesse a bebida  ao João Mutemba. Mas isso era só para ver se Genésio engoliria a corda e os venderia a bebida.

Tudo pronto. Ao chegarem ao barracão seu Genésio cuidava das prateleiras, abastecendo-as com novas mercadorias que recebera dos fornecedores ambulantes.

Como o João Mutemba iria fazer a solicitação da venda do líquido ao seu Genésio, o Carlos Silva logo posicionou-se por trás dele, e ali ficaram aguardando, enquanto seu Genésio terminasse a tarefa que no momento fazia.

Virando-se em direção aos novos fregueses, que no momento iriam tentar convencê-lo a venda da garrafa de cachaça, seu Genésio perguntou-lhes:

- Querem o quê?

- Seu Genésio - dizia João Mutemba - O problema é o seguinte:

- Diga logo, sem muito sermão - fez Genésio.

- Se possível, a gente está querendo que o senhor nos venda uma garrafa de "pitu", mas não tenha medo, assim que a gente receber dinheiro, vem lhe pagar.

Enquanto isso, Carlos Silva ficou balançando a mão, acenando que não vendesse a bebida ao João Mutemba.

Genésio observava a cena feita por Carlos Silva, já com ódio. E de imediato desabafou:

- Olha seu magrelo branco, - dizia ele ao Carlos Silva - você está querendo mandar no meu barracão? Aqui quem manda sou eu, o Genésio Xavier! Ora essa! Vá mandar lá nas suas coisas, as minhas quem manda sou eu. 

Genésio foi à prateleira, tirou a garrafa de cachaça, trouxe-a dizendo-lhe:

- Vendo-a! Vendo porque a cachaça é minha, e eu vendo a quem eu quiser. Leve-a, mas não dê um pingo de cachaça a este safado, para não ficar querendo mandar nos barracões dos outros. Só o que me faltava mesmo! Um sujeito que eu nem sei quem é, agora quer mandar no meu barracão! Ora essa! E saia daqui logo, sua peste!  -Dizia Genésio Xavier expulsando o Carlos Silva do seu barracão.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Fonte:
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

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