Por José Mendes Pereira
Nós
éramos 16 irmãos, sendo 10 mulheres e 6 homens, todos do mesmo
casal, nascidos entre as várzeas à beira do rio do Carmo, na localidade Sítio
Mururé (Barrinha), pertencente à família Duarte, mas esta propriedade em que nós morávamos era do senhor
Manoel Duarte Ferreira,
Manoel Duarte Ferreira - Assassino do cangaceiro Colchete
o
homem que na tarde de 13 de Junho de 1927, em Mossoró, assassinou o facínora
Colchete, e além deste, deixou gravemente ferido o cangaceiro Jararaca.
Ao centro - o cangaceiro Jararaca, ladeado por policiais
Apesar
das dificuldades que nos visitávamos constantemente, por não termos
alimentações nutrientes, exceto o leite de cabra, e o queijo, como todos os
camponeses, o grosseiro nós tínhamos, e franco, mas vivíamos felizes.
A
casa que nós morávamos era construída de taipa, virada para o nascente, e um pé
de cajarana cobria uma boa parte do terreiro da frente, além de outro, que
mesmo sendo menor, protegia os fundos da cozinha.
Além
do leite e do queijo a nossa alimentação vinha da colheita de milho,
feijão, jerimum, melancia, melão..., isso quando o inverno era farto, mais
ainda, eram sacrificados bodes, galinhas, ou caças, quando nós resolvíamos
desobedecer as ordens do meu pai
Pedro Nél e seus netos
Pedro Nél Pereira, que ele não queria que nós fôssemos às matas
para matar os animais, como preás, rolinhas, iguanas, asas brancas, que nesse
período existiam em quantidade, e para que elas fossem capturadas, o mais fácil
era ao clarear do dia, escondido em uma tocaia, na beira do rio ou de uma
lagoa, assim que elas pousavam para beber água, apertava-se o gatilho da
espingarda, com certeza algumas delas ficariam mortas, e outras tentavam voar,
mas infelizmente estavam baleadas, e eram capturadas facilmente.
Assim
que o inverno terminava e fazíamos a colheita, a partir de Julho, estendendo-se
até o início do ano seguinte, todos estavam ocupados com o corte de palhas da
carnaubeira, exceto a lavoura, geralmente era uma das atividades mais produtiva
para o camponês.
Antonia Mendes, filha e netos
Lembro-me
do momento das nossas refeições, e que não tínhamos mesa, e ali, ao redor de
uma esteira fabricada com a palha da carnaubeira, sobre o chão, nós sentávamos
em pequenos bancos, enquanto a minha mãe fazia a divisão do alimento, que à
noite, geralmente era a coalhada com o pão de milho.
Mas
antes, todos nós, em pés, rezávamos o "Pai Nosso", iniciado pelo meu
pai, e ao término, todos abraçavam uns aos outros, mesmo que algum de nós
tivesse tido uma confusão com outro irmão, era obrigatoriamente aquele abraço,
isto era uma das exigências do meu pai. E era para ser cumprida; mesmo que ele
não estivesse em casa, um dos filhos ou filhas iniciava o "Pai
Nosso".
Naqueles
tempo, para quem era camponês o sofrimento era grande, já que não havia ajuda
de prefeitos, governos..., só a graça de Deus e mais nada. Hoje é diferente. O
homem do campo tem tudo, até mesmo carro em sua garagem. Mas muitos não sabem
aproveitar a oportunidade que o governo dá. Aplicam a ajuda que recebem em
coisas supérfluos, quando deveriam comprar gado, ovelhas etc.
Mas dou os meus parabéns aos camponeses que tiveram sortes, e hoje vivem uma vida como a do homem da cidade.
Minhas Simples Histórias
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