Por José
Mendes Pereira
Nas décadas de
50 e 60, e estendendo-se até o início da década de 70, café era considerado o
"ouro negro em grãos", devido o seu alto custo, talvez pela redução
da colheita. Como o preço era altíssimo, muitos proprietários de caminhões
enganavam o governo trazendo o produto para o Nordeste sem o pagamento dos
impostos, a chamada venda contrabanda.
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Na década de
60, mais ou menos no início desta, o meu pai ainda morava em terras alheias,
mas não era vaqueiro do fazendeiro, apenas plantava, criava seus animais sem
nenhum compromisso com o proprietário. Naquela época transportar café sem o
pagamento de impostos, para muitos era um bom negócio, e assim traziam café
pelas rotas que não passavam pelas alfândegas.
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Um senhor que não tinha nenhum vínculo com a propriedade, mesmo assim ludibriou o fazendeiro para guardar feijão, milho, arroz, farinha... em um dos seus armazéns, lugar onde era batida as palhas das carnaubeiras para a extração do pó, e neste período, o armazém estava vazio, ainda não havia iniciado o corte de palhas das carnaubeiras.
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Ciente de que
seria mesmo legumes o proprietário aceitou a solicitação, enviando ao meu pai a
autorização da entrega da chave do armazém ao homem, para que ele armazenasse
seus legumes. Mas o certo é que o homem não guardava legumes, e sim, trazia
café contrabandeado, e o guardava no armazém, que geralmente chegava altas
horas da noite, com o seu caminhão carregado com o produto ilegal, acompanhado
de mas alguns ajudantes para a descarga.
Assim que o
meu pai descobriu que não se tratava de feijão, milho..., e sim de sacas e mais
sacas de café, não gostando daquela arrumação, e não querendo contar ao
proprietário o que o homem estava escondendo em seu armazém, e temendo ser
preso por estar escondendo a mercadoria ilegal, apavorou-se, resolveu sair da
propriedade. Alguns vizinhos até o alertaram que ele estava correndo o risco de
ser chamado à justiça, para prestar depoimento de quem era aquele produto.
O meu pai
estava preocupado, e de imediato conversou com minha mãe, sobre uma possível
compra de uma propriedade, só assim se livraria daquilo que o incomodava
no momento, já que ele não era homem de se aproveitar do que não era dele. E de
imediato, dirigiu-se a minha mãe dizendo-lhe:
Pedro Nél Pereira e Antonia Mendes Pereira http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com
- Dona Antonia
(como o meu a chamava), não podemos mais viver aqui. Descobri que o homem não
está guardando no armazém cereais, e sim café. E eu não vou ficar escondendo
roubos de ninguém. A solução será nós procurarmos outra propriedade para
morarmos, ou desfazermos dos nossos animais para comprarmos nem que seja uma
linguinha de terra.
Se o meu pai estava preocupado, igualmente minha mãe, que muito o incentivou a negociação da terra dizendo-lhe:
Se o meu pai estava preocupado, igualmente minha mãe, que muito o incentivou a negociação da terra dizendo-lhe:
- Pedro, nós
precisamos sair daqui o quanto antes. Não é justo que você venha pagar um preço
caro por ilegalidade dos outros.
O meu pai
respondeu-lhe que concordava. E a partir daí, ficou desesperado.
Precisava sair o quanto antes dali. Nunca fora preso, nunca fora chamado em
posta de delegacias, e agora estava sujeito a visitar um delegado, uma
casa que prende...
Manoel
Duarte - irmão de Lili Duarte
Mas para tudo
há um jeito. Por sorte, Luiz Duarte, irmão de Manoel Duarte, o matador do
cangaceiro Colchete, tinha duas propriedades. A primeira herdada quando a
sua mãe Inácia Vicência Duarte falecera.
E a segunda recebera de herança do seu pai Francisco Duarte Ferreira, um dos maiores latifundiários de terras ao lado leste da cidade de Mossoró. E como o Lili Duarte não precisava de duas terras na mesma localidade (Barrinha), ele resolveu por uma delas à venda.
Assim que o
meu pai tomou conhecimento da futura venda da propriedade, abalou-se até
Mossoró para saber o preço, e posteriormente venderia os seus estimados e bem
zelados animais para a compra. Negociado a terra, meu pai vendeu todo
gado, e um monte de cabras e bodes, só no intuito de sair o mais rápido
possível daquele armadilha.
O certo é que
ele conseguiu comprar 1 légua de terra na década de 60. No dia 10 de Maio de
2011 o meu pai despediu-se do nosso planeta, e a pequena propriedade que
deixou, ainda continua em nosso poder, sem que nenhum de nós tenha pensado
vendê-la.
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