Claret Fernandes: "Bem vindos, camaradas!"
militante do MAB e missionário na Prelazia do Xingu
Bem-vindos, camaradas cubanos! Votos de que possam fazer bem à saúde do povo. Que façam bem, ainda, aos nossos sonhos!
Dois
fatos me chamaram a atenção, hoje, um da subida do dólar, que bate à
casa dos 2,45 em relação ao real, a maior cotação desde dezembro de
2008. A moeda, também, é uma questão de poder! Algumas poucas decisões
do império Norte Americano, mais tinta verde e papel, são suficientes
para impactar a moeda de todos os países emergentes. O Brasil sofre a
pancada maior! A queda acumulada do real desde o início de 2013 é de
16,41%.
O caso do dólar parece mesmo sério! O presidente do
Branco Central, Alexandre Tombini, cancela viagem ao exterior para
acompanhar de perto, e pessoalmente, a instabilidade do câmbio, e o
nervosismo do mercado.
Bons tempos em que se desmarcavam
compromissos porque alguém corria risco de morte, num acidente, por
exemplo. Hoje não! Em Belo Monte, um trabalhador acidentado ficou de 17
às 21 horas no chão, no canteiro de obra, coberto com uma lona. Seus
companheiros foram obrigados a continuar trabalhando, passando por
aquele corpo, estendido no chão, de um lado para outro. Ninguém chora,
isso já faz parte do ‘risco 4’ assinado no momento do ingresso no
emprego. Tucuruí teriam morrido trezentos trabalhadores. Um operário
garantiu que, em Belo Monte, já morre um por mês. Mas ninguém sabe ao
certo, pois muitos casos ficam escondidos, e os números são manipulados.
Quanto
ao dólar, analistas dizem que pode haver pressão imediata sobre o preço
da gasolina e sobre a tarifa de energia elétrica, ambas referenciadas
pela moeda americana.
O capitalismo é assim, como um deus às
avessas. Cria seus monstros, personifica-os e, depois, atribui-lhes a
culpa pelo destino ingrato dos despossuídos de tudo e, por cima, ainda
consegue acumular riqueza com a crise. No assanhamento ou na bonança do
mercado, os capitalistas nunca perdem. Podem, quando muito, ganhar
menos. A não ser quando a classe trabalhadora, explorada, a única que
produz toda riqueza do mundo, acumula força e resolve mudar o jogo, com
coragem e rebeldia.
Essa, aliás, é a segunda notícia! A revolução
cubana, vitoriosa em 1º de janeiro de 1959, derrubando a ditadura de
Fulgêncio Batista, continua dando bons resultados. O embargo econômico
imposto pelos Estados Unidos, embora crucial para a Ilha rebelde, não
conseguiu estancar a sede de liberdade, e a força benéfica do socialismo
para o povo cubano e para o mundo. Cuba envia, hoje, profissionais da
medicina para mais de 60 países. Graças à reação do povo brasileiro, que
resolvera sair às ruas, o Brasil, também, poderá, agora, beneficiar-se
do processo exitoso da revolução cubana.
No capitalismo, a
educação, a água, a religião, a saúde, a doença, tudo é mercadoria. Em
diversas igrejas, reina a onda da teologia da prosperidade. Alguns
profissionais sérios da área da medicina não entendem outra lógica senão
a do mercado, pois ‘no capitalismo nascemos, nos movemos e existimos’.
Conheço uma estudante de medicina – gente boa que só vendo! -; ela vai
terminar o curso no final de 2015 e conta, orgulhosa, que já está com
seu consultório montado.
Esses profissionais misturados entre os
que fazem da saúde um negócio, mas não por má fé, estão perdoados.
Definitivamente, não são bandidos! Incorporaram o espírito do sistema
vigente no país. Há, porém, uma verdadeira máfia que controla a
indústria farmacêutica no Brasil e no Mundo. Esses são uns canalhas!
Estão se esperneando, se mexendo. Claro! Não são idiotas! Eles não
querem perder esse filé, cada vez mais promissor. Quando mais
abandonado, mais doente ficar o povo, mais essa máfia lucra.
Em
cidades do interior, principalmente, há profissionais da medicina que,
apesar da estrutura extremamente precária, e da politicagem, exercem sua
profissão com muita dignidade, e salvam vidas. Mas existem, também, os
que fazem do povo, e até dos políticos, gato e sapato, chantageando, com
exigências descabidas, não pensando no povo, mas em si mesmo. Em
Altamira PA médicos chegaram a ganhar 100 mil reais/mês. Há os que se
candidatam e vencem as eleições não por suas qualidades superiores, mas
por causa da carência generalizada do povo.
Outro dia, passando
por Guaraciaba MG, conversava com a mãe de Dayane, que faz medicina em
Cuba pelo Movimento dos Atingidos por Barragens. Lourdinha, esse é o
nome dela, dizia que o Curso de sua filha está com um ano de atraso.
Isso porque sempre que tem alguma epidemia, contava, profissionais e
estudantes deixam suas atividades e vão socorrer as pessoas. A saúde do
povo é prioridade! Em Cuba, contava Dayane em outra ocasião, trabalhar
na saúde é ajudar a cuidar do povo. Em qualquer país capitalista, a
doença é uma oportunidade para alguém enricar-se e a carência do povo é
uma valiosa moeda de troca.
Bom! Então essas são as duas
notícias: de um lado, impérios econômicos que despejam dólar no mundo –
ou tira - e manipulam o mercado a seu favor e, de outro lado, uma ilhota
de nada que salva vida em mais de 60 países.
Mas os cubanos
estão chegando mesmo! São 400 em setembro, e 4 mil até o fim do ano. O
governo brasileiro vai repassar recursos à Organização Pan-americana da
Saúde, no valor de 10 mil por profissional. A OPAS, por sua vez, repassa
o dinheiro ao governo cubano, que decidirá quanto o médico vai receber.
Algo estranho para a lógica capitalista, viciada no negócio, mas normal
num país socialista, educado no serviço à coletividade.
Bem-vindos,
camaradas cubanos! Dois ficarão aqui, bem próximos a nós: um em Vitória
do Xingu e outro em Altamira, cidades dramaticamente impactadas por
Belo Monte. Precisamos de mais: bons profissionais e condições de
trabalho.
Votos de que possam fazer bem à saúde do povo. Que
façam bem, ainda, aos nossos sonhos! Desejo de que possamos ir
aprendendo de vocês a utopia concreto de que é possível construir outra
ordem social.
Fonte: MAB Amazônia
Dr. Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário