Junho, na Igreja Católica, é de modo todo
especial, o mês do Coração de Jesus, uma das devoções mais conhecidas do
nosso povo, das mais profundamente arraigadas e praticadas, haja vista o
grande número de Congregações e Associações dedicadas ou conexas com o
Coração de Cristo. Entre estas últimas, o Apostolado da Oração, existente em
todo o mundo católico.
Não está separado desta devoção ao Coração de
Cristo, o que agora, no Brasil toma corpo pela força da mídia televisiva: o
devocionismo popular ligado ao “Traspassado”. Desta vez, a referência são “as
mãos ensangüentadas de Jesus”, cuja novena diária vem atraindo a tantos em
todo o país.
Mais uma devoção. Como as demais, tão cheia de
expressões ricas de religiosidade popular. Se há algo a temer é tão somente o
receio, bem fundamentado, de que não sirva apenas de pretexto para a
exploração comercial da boa fé do povo católico, naturalmente aberto aos
apelos sensacionalistas dos belos cânticos e dos meios de comunicação. É
conhecida, e bastante longa e bela, a evolução histórica do culto ao Coração
de Cristo. Quem comenta o assunto é o cardeal arcebispo emérito do Rio
de Janeiro, dom Oscar Scheid, em artigo divulgado na imprensa: “Origina-se,
escreveu ele, do Antigo Testamento, que coloca o coração como sede da nossa
sabedoria, dos afetos e sentimentos. No Novo Testamento, o coração aparece
como o centro do conhecimento e da doutrina de Jesus, contrária e oposta à
doutrina rígida e sem caridade que fariseus, muitos doutores da lei e escribas
ensinavam. Jesus agradece ao Pai por ter revelado seu mistério aos pequeninos
e humildes. Ele revela que veio para que se tomasse conhecimento, através de
seu Coração, do mistério de Deus, bem próximo ao povo, quando disse:
“Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis
descanso para vossas almas”, nos apontando as disposições evangélicas da
mansidão, da humildade, da pequenez, do espírito de serviço.
Essa contemplação consciente do Coração de
Cristo, traspassado, remonta à Idade Média, com a ida dos Cruzados e através
das diversas outras peregrinações à Terra Santa, quando entraram em contato
com a realidade da vida humana de Jesus. Então, começaram a se concentrar
muito na sua Paixão, com todas aquelas terríveis machucaduras: pela
flagelação, a coroação de espinhos, as chicotadas e quedas debaixo da cruz e,
mais que tudo isso, com suas mãos e pés perfurados pelos lancinantes pregos.
Surge, assim, a devoção às Santas Chagas do Senhor. Dentre elas, visualizaram
o maior significado na chaga central, a qual resumia todo o Seu sofrimento,
chegando ao Coração de Cristo, onde se detiveram: “Olharam para O
Traspassado”. Há a fase dos Santos Padres, a dos grandes místicos, Doutores
da Sagrada Escritura, que descobriram, concentrada nessa chaga do Coração, a
síntese de tudo o que Jesus sofrera e ensinara. Reconheceram que todos os
benefícios da Redenção vieram desse Coração aberto. Assim, desenvolve-se a
teologia, a mística e a espiritualidade do Coração de Cristo. A Escola dos
Jesuítas fez com que a devoção fosse quase que central, dentre as devoções
que havia em torno da Pessoa de Jesus e do Seu Mistério.”.
NÃO SÓ DE FOGUEIRAS E BUMBAS-MEU-BOI...
Não só do Coração de Jesus vive o mês de Junho.
Nem só de fogueiras e bumbas-meu-boi. Também vive das festas dos santos
Padroeiros, bem do gosto do povo. Também de procissão. Entramos
no mês de Santo Antônio, de São João, de São Pedro. Também, e, em
caráter especialíssimo, uma obrigação até, junho é mês da Procissão do
Corpus Christi.
Os Santos populares, o Coração de Jesus e a Festa do Corpus Christi gozam da admiração e louvor das mais categorizadas vozes que animam a caminhada pastoral da Igreja. Já as “fogueiras” e os “bois”, os “espelhos adivinhos” e os casamentos da roça, são pura religiosidade popular. Mas não deixam de ter o seu valor cultural. Como cantaram, agora, na Rádio 6 de Abril, os violeiros: “Se é junho, o mês é de Santo Antônio... e é do matrimônio!”.
Corpus Christi, que vamos celebrar no próximo dia
7 (quinta-feira), no Brasil, desde algum tempo, é até um feriado
nacional. Por ser dia de Procissão, envolvendo milhares de pessoas em todos
os recantos do país, motivou certamente a decisão de nossos legisladores que,
na época, não se deixavam influenciar pela constitucional laicidade do Estado
brasileiro, consideração hoje tão em moda.
Assim é que nesta quinta-feira, com gente vinda
de todas as comunidades, as cidades do Brasil se encherão de fiéis católicos
que virão festivamente, com artísticos painéis decorativos espalhados pelas
ruas e calçadas, participar do grande louvor público da Igreja à Eucaristia,
como presença real de Jesus. Será a “Procissão do Corpus Christi” (O Corpo de
Cristo).
PRESENÇA REAL DE JESUS - SÓ PARA CATÓLICOS E
ORTODOXOS
Assim como no ato de comungar na Missa, quando o padre nos apresenta a hóstia consagrada anunciando: “O Corpo de Cristo”, e logo dizemos: “Amém”, a procissão da próxima quinta-feira é o “Amém” coletivo de milhões de vozes proclamando que Ele está, eucaristicamente, no meio de nós.
Falar da Eucaristia é falar de mistério, de algo
fora do alcance da compreensão da razão e da investigação pelo conhecimento
da ciência humana. E porque cremos, assim poderemos, dia 7, nas ruas e praças
de nossas cidades e vilas, cantar: “Bendito e louvado seja o Santíssimo
Sacramento!…”.
Para católicos e ortodoxos, não para os “crentes”
e “evangélicos” em geral, o pão e o vinho da Missa são realmente presença de
Jesus. Presença eucarística, é claro! Não presença física como, judeus
reticentes, em Cafarnaum, puseram em questão, ao ouvirem o discurso de Jesus.
Presença eucarística. Não simples lembrança dele como, a partir de Lutero e a
quase totalidade de seus seguidores de hoje, pensam os outros cristãos que
não pensam como os católicos e os ortodoxos.
Está no Bíblia que Jesus preparou-se para entregar à sua Igreja o memorial da salvação que ele iria conquistar para a humanidade: a Eucaristia. A Igreja sempre falou do pão e do vinho da Missa assim: “é a presença real de Jesus”. Esta é uma das verdades centrais ensinadas pela Igreja Católica. Num mundo de virtualidades possibilitadas pela internet não perdeu a sua atualidade sustentada também por milagres eucarísticos, especialmente o de Lanciano (Itália). A afirmação é até um dogma, para usar o termo técnico do linguajar teológico, mesmo se a expressão, diante de um mundo cuja característica básica é a mudança, pareça antiquada e nada condizente com o espírito da modernidade avesso a qualquer afirmação categórica.
Na história dos dogmas, que sempre está em
evolução, está que a Igreja, ao longo de todos os tempos, colocou em
evidência a Eucaristia. Desde o início, com os Apóstolos e as primeiras
comunidades, até os nossos dias; desde a “fração do pão” de que fala Atos dos
Apóstolos, um livro da Bíblia, até à Missa, Ceia do Senhor, ou Celebração
Eucarística, para usar os termos de hoje.
As divergências se deram somente na compreensão,
em nível racional, sobre como a transformação se dava. Aí entravam não mais a
visão teológica, mas o olhar filosófico. As questões não eram de teologia da
Eucaristia, mas, como ainda hoje pode acontecer, de filosofia da Eucaristia.
Com razão, nós que cremos na Eucaristia proclamamos: “Eis o mistério da fé!”.
*Professor do Instituto de Teologia e Pastoral
(ISTEP) e Pároco de Cruz.
Postado por Dr. Lima
Cruz-CE
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segunda-feira, 4 de junho de 2012
MÊS DE JUNHO, DE SANTO ANTONIO E DO MATRIMÔNIO
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