Por: Carlos Lindberch
Meu colega: nestas minhas missivas semanais, volta e meia sai uma história cujo personagem é o nosso vaqueiro nordestino, aquele homem destemido, valente, que não tem medo de nada ou então quando frouxo, muito contador de vantagem, ou melhor dizendo, farofeiro, como Zé de Maria Rita.
Zé de Maria Rita, apesar de mal saber montar num cavalo, era o maior farofeiro da redondeza de onde morava, contando as mais espafúrdias histórias de pega de boi bravo no mato, todavia, como todos sabiam que ele só tinha conversa, não conseguiu mais trabalho por aqui e certo dia tomou uma decisão, que comunicou a Maria Rita, sua mãe:
- Mãe, aqui ninguém reconhece que eu sou o melhor vaqueiro da região, portanto vou arribar e procurar trabalho lá pras bandas de Mato Grosso, onde minha capacidade será reconhecida.
- Zé, vai com calma. Eu sei que você é vaqueiro, mas pelo que me contam, conversa mais do que trabalha e está longe de ser como seu falecido pai, que Deus o tenha, que nunca voltou do mato sem o boi, mesmo que a jurema tenha lhe tirado mais de uma tira do couro...
- A senhora é que não entende da profissão. Eu sou o melhor e lá no sul serei reconhecido.
Zé arrumou suas poucas coisas que tinha num matulão, tomou a bênção a mãe e partiu.
Chegando em Mato Grosso, apresentou-se ao capataz de uma fazenda e pediu emprego:
- Por acaso o senhor está precisando de um vaqueiro bom?
O capataz olhou para Zé, magro, amarelo, pequeno, com jeito de tudo, menos de vaqueiro, e perguntou:
- O senhor já montou a cavalo alguma vez?
- Ora, meu amigo, isto é uma ofensa, eu sou o melhor vaqueiro do Rio Grande do Norte, só vim pra cá porque lá não tinha mais boi bravo no mato para eu pegar.
- Pois muito bem - falou o capataz -, vamos fazer um teste. Se você aprovar o emprego é seu. Aqui tem um boi que até hoje ninguém conseguiu pegar, o boi ponta leão. Se você é tão bom como diz, peque um cavalo ali no curral, sele e vá atrás dele. Se pegar, o emprego é seu.
- Deixe comigo, patrão, e considere esse Ponta Leão no curral.
- Vamos vê -fala incrédulo o capataz.
Ajudado pelos outros vaqueiros, que pegaram pra Zé o cavalo mais bravo da fazenda, Zé montou e quando fincou as esporas na barriga do bicho, ele deu um pulo de quase dois metros e desembestou numa carreira danada em direção à mata.
A desembestada foi tão grande que o capataz, temendo um acidente grave, falou para os outros vaqueiros:
- Vamos acudir o homem, porque na certa ele vai se esborrar numa queda!
Mas Zé não caiu. Agarrou-se no pescoço do cavalo que quando entrou na mata avistou o boi que estava pastando e partiu pra cima dele que quando que quando avistou saiu em desembalada carreira, com o cavalo atrás, com Zé em cima, morto de medo, sem ver nada, só tratando de não cair. Lá na frente, tropeçando num tronco de árvore caído no chão, o boi caiu e na queda quebrou o pescoço, morrendo instataneamente. O cavalo, que vinha, viu o tronco e freou em tempo. Zé desceu do cavalo e só aí notou que o medo tinha sido tão grande que ele tinha se melado todo. Era merda por todo canto, tanto na sela do cavalo ainda descendo pelo seu mocotó.
Zé ainda estava pensando o que fazer para se livrar de tanta sujeira, quando ouviu o tropel do pessoal chegando. Pensando ligeiro, botou o pé em cima da cabeça do boi do boi morto e ficou esperando.
Quando a turma chegou, um dos vaqueiros foi logo dizendo:
- Patrão, o homem cagou-se todinho!
Ao que Zé, com cara de valente, respondeu em cima da bucha.
- E vocês por aqui, quando estão correndo atrás de boi, param pra cagar?
Fonte:
Gazeta do Oeste
29-06-1997
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