Por: Manoel Severo
A história do cangaço é recheada de dados imprecisos, versões e interpretações que vão tecendo esse emaranhado que é o incrível mundo dos cangaceiros, aqui vamos abrir um parêntese para assuntar uma segunda versão sobre o casamento de Zé Ferreira e Maria Lopes; pais de Virgulino Ferreira; assim recorremos ao texto do pesquisador e escritor Jorge Mattar Villela que nos coloca o seguinte episódio: “No distrito de São João do Barro Vermelho, nas proximidades da fronteira do município de Floresta, situava-se a Fazenda Matinha, de propriedade de Manoel Barbosa Nogueira e Maria Manuela do Nascimento.
Sítio Passagem das Pedras em Serra Talhada
Segundo relatos atuais, este casal adquiriu uma dívida com José Ferreira. Embora fosse ele integrante de uma família pequena e pobre e aqueles, de uma grande e importante, José Ferreira aceitara sua esposa Maria para concertar um erro de um parente de Manuela. Por aceitar Maria e seu filho, de nome Antonio, cuja paternidade fora atribuída a ele, José Ferreira teria recebido algumas braças de terras, no lugar chamado Passagem das Pedras. Daí por diante, Manuela passou a proteger os Ferreira, emprestar dinheiro para a compra de burros, e posteriormente para compra de cargas em troca de um percentual dos lucros, possibilitando-os estabelecer-se como almocreves.
José Ferreira, com seus filhos, com seus burros, fazendo carretos de mercadorias, melhorou de vida e no entanto, embora fosse uma família com capital, com dinheiro mesmo, algo não muito corriqueiro no sertão, seu status não melhorara na mesma medida. Por outro lado, os laços estabelecidos com os Barbosa Nogueira não se esgotaram nas relações comerciais, por assim dizer. Luzia, filha de Maria Manuela, e o marido, José Clementino, também residentes da ribeira da Matinha, apadrinharam Generosa, irmã de Lampião. Um outro parente residente da Matinha, Luiz Barbosa, era padrinho de Livino Ferreira e Raimundo Gomes de Barros, da fazenda São Domingos, era padrinho de Mocinha, irmã de Lampião.” Dessa forma Jorge Villela nos apresenta uma outra versão sobre o casamento e a origem do primogênito dos Ferreira, o irmão mais velho, Antônio Ferreira.
Virgulino foi praticamente criado na casa de sua avó materna, dona Jacosa Vieira do Nascimento, cerca de 200m da fazenda dos pais. Seus avós paternos eram Antonio Ferreira dos Santos Barros e Maria Francisca da Chaga, moradores de Triunfo, também em Pernambuco. Também na Vila de São Francisco fez sua primeira comunhão em 1905, se crismando em 1912, celebrada pelo recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas.
Menino igual a todos os outros nascidos no lugar, viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de “meu sertão sorridente”, recebeu as primeiras letras através dos professores Domingos Soriano e Justino de Nenéu e desde cedo ao lado dos irmãos mais velhos, Antônio e Levino, ajudava o pai nas obrigações cotidianas, trato com a agricultura de subsistência, cuidando dos animais e desenvolvendo depois o trabalho almocreve pelas vilas e povoados da região.
Os almocreves dos sertões nordestinos eram verdadeiros desbravadores, como caixeiros viajantes, uma espécie Marco Pólo sertanejo, levando e trazendo mercadorias se configuravam como autêntica coluna vertebral no comércio interno do sertão. Durante quase uma década, de 1910 a 1919, Virgulino Ferreira e seus irmãos mais velhos acompanharam o pai neste trabalho pelas terras nordestinas e que viria a ser de grande valia para sua futura empreitada cangaceira.
As viagens iam normalmente de Rio Branco, atual Arcoverde, onde se localizava o final da linha férrea da Great Western; que ligava Recife ao sertão pernambucano; aos rincões mais distantes não só daquele estado, mas também de todo o nordeste. Todo tipo de mercadoria chagava até ali e dali era enviada para toda região.
Por algumas vezes os Ferreira chegaram até terras baianas, ali no município de Monte Santo, havia um curtume de propriedade de Salustiano Andrade, que logo passou a utilizar os almocreves pernambucanos para o transporte de peles de caprinos até a Vila da Pedra, atual Delmiro Gouveia, assim, Virgulino ao lado do pai e dos irmãos teriam passado a ser costumeiros fornecedores de peles do maior empreendedor dos sertões nordestinos, o cearense Delmiro Gouveia.
Manoel Severo
Na cidade de Augusto Severo,hoje, campo Grande-RN, existia um comerciante por nome de José Milton que é natural da cidade de Arco Verde. Inclusive, no seu comercio existia uma quadro na parede com uma paisagem da cidade de Arco verde. Quando Lampião destinava-se a Mossoró, o povo de Augusto Severo pegou os fardos de algodão de uma usina de descaroçamento e montaram várias trincheiras na tentativa de se protegerem contra uma possível visita do bando de Pampião. Meus pais contavam que o fazendeiro Otoni Maia da Fazenda Espalha, atual município de Janduís, colocou a família em carretões puxados por juntas de bois e foi se esconder no açude das Ameixas,no Sítio Adiquinhão e só retornou quando soube que Lampião já tinha indo embora de Mossoró, sendo o local mais próximo de Augusto Severo que ele havia passado tinha sido na Várzea de Apodi há cerca de dez léguas. Eles contavam a historia de uma velhinha que estava assando um pedaço de carne chorando com medo dos cangaceiros que as lagrimas apagavam o fogo.
ResponderExcluirDr. Lima, natural de Augusto Severo e residente em Cruz-CE. Estas histórias eram contadas pelos meus pais nas conversas de terreiro.