O
semiárido nordestino enfrenta a maior seca dos últimos 30 anos, com os efeitos
devastadores das calamidades que ciclicamente castigam a região.
A estiagem, que já colocou 515 municípios em estado
de emergência, provocará uma queda de 40,1% na produção agrícola nordestina em
relação à safra de 2010/2011, o que significa uma perda de 1,4 milhão de
toneladas, basicamente de milho e feijão, segundo estimativa da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab). A cultura do arroz também foi afetada pela
falta de água nos reservatórios. A pecuária regional foi seriamente afetada. Os
criadores de gado em zonas mais afetadas pela seca perderam muitas cabeças de
gado e, para reduzir os prejuízos, vendem as reses magras que lhes restam para
pecuaristas do Maranhão e do Pará. Não são poupadas nem mesmo as matrizes, o
que tornará mais difícil a recomposição dos rebanhos.
O governo federal, em articulação com os governos
estaduais, tem agido, mas, por enquanto, limita-se às habituais políticas de
cunho assistencial, deixando de lado programas estruturais de combate efetivo
às secas, como uso mais racional dos açudes, perfuração de mais poços
artesianos e emprego da tecnologia desenvolvida para a construção de
reservatórios subterrâneos, capazes de evitar que a água acumulada se evapore
devido à forte insolação.
Isso não quer dizer que as medidas emergenciais não
sejam necessárias. A diferença em relação às secas passadas, como disse o
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Águas Belas (PE), André de
Santana Paixão, é que a população passa por dificuldades, mas, por enquanto,
não passa fome, graças ao Bolsa-Família, que atende 850 mil famílias na região
atingida pela seca. Esse programa foi reforçado pelo lançamento, no fim de
abril, pela presidente Dilma Rousseff, da Bolsa Estiagem, com uma verba total
de R$ 200 milhões. O programa prevê um auxílio de R$ 400, distribuído em cinco
prestações de R$ 80, além do Bolsa-Família, desde que o beneficiário comprove
que reside em área afetada pela seca.
O novo programa ainda não alcançou todas as áreas
atingidas pela estiagem e é preciso controle adequado para que o dinheiro
chegue realmente a quem precisa e não seja desviado no meio do caminho. O
governo promete também antecipar recursos do Programa Garantia-Safra (seguro
para pequenos produtores), abrindo uma linha de crédito emergencial para
produtores no Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
Também está em andamento a Operação Carro-Pipa para
levar água potável a 654 municípios nordestinos. Há queixas de que o número de
carros-pipa dos governos estaduais e do Exército é insuficiente, mas, segundo o
ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, a frota será
ampliada, sendo aplicados cerca de R$ 174 milhões nessa operação. Também serão
recuperados 2,4 mil poços, mas o ministro não especificou a verba a ser
destinada para esse fim.
Quanto às soluções técnicas, hoje está claro que a
transposição de águas do Rio São Francisco, cujas obras estão sendo conduzidas
com lentidão, não será uma resposta à altura do desafio. O canal beneficiará
uma pequena parcela da população nordestina e as águas serão utilizadas mais
para irrigação do que propriamente para abastecimento. Parece claro que falta
um empenho do governo em atacar frontalmente o problema das secas no Nordeste.
Não se trata de falta de planejamento. A Agência
Nacional de Águas (ANA), que elaborou em 2006 o Atlas Nordeste de Abastecimento
de Água, tem projetos para atender às necessidades de 34 milhões de pessoas que
vivem em áreas urbanas da região. Para o meio rural, a Articulação do Semiárido
Brasileiro, uma rede formada por cerca de 750 organizações da sociedade civil,
tem como meta implantar 1 milhão de cisternas, triplicando o número hoje em
uso.
É chegado o momento de o governo levar a cabo os
projetos que se encontram na gaveta, para que o Nordeste possa conviver com o
fenômeno cíclico das secas e prescindir, no futuro, de programas emergenciais.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Dr. Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário