Euclydes Pinto
Martins, um herói cearense
Aviador Pinto Martis -,CE |
Euclydes Pinto Martins nasceu em Camocim – CE, no 15 de abril de 1892. Filho de
Antônio Pinto Martins e Maria de Araújo do Carmo Martins. Passou pouco tempo em
sua terra natal, pois, seu pai foi convidado a representar a Companhia de
Salinas Mossoró Assú, em Macau – RN.
Passou toda sua infância no Rio Grande do Norte, onde,
paralelo aos estudos regulares, frequentou o Curso de Náutica. Com 17 anos, foi
para os Estados Unidos, onde se formou em Engenharia Mecânica e estagiou na
“Baldwin Locomotive”, uma fábrica de vagões. Ali, o jovem aprendeu a falar
inglês rapidamente e se inseriu na sociedade local, conhecendo a Srta.
Gertrudes Mc Mullan, com quem se casou.
Seu primeiro retorno ao Brasil foi logo após sua formatura,
em 1911. Passou a trabalhar como engenheiro na “Inspetoria Federal de Obras
Contra a Seca” e na Estrada de Ferro, em Natal, quando, em 1914, nasceu sua
primeira filha: Ceres, que viria a morrer, tragicamente, aos 31 anos de idade
num acidente de avião em Porto Rico. Quatro anos após o nascimento de Ceres,
Pinto Martins perdeu sua jovem esposa o que contribuiu para seu retorno aos
EUA. Casou-se, pela segunda vez, com a americana Adelaide Sulivan, advogada,
doze anos mais velha que Pinto Martins, com quem teve sua segunda filha,
Adelaide Lillian, em 1920.
Durante a década de 20, Pinto Martins se interessou pela
aeronáutica, que se desenvolvia por conta da guerra. Em 1921, entrou em um
Curso de Aviação e conseguiu o “brevet” de piloto. Com sua entrada no meio
aeronáutico, conheceu um veterano na área: Walter Hilton, instrutor de voo na
Flórida.
No ano seguinte, o jovem aviador camucinense e Hilton lutaram
para realizar o sonho de Pinto Martins de atravessar a América em um
Hidroavião, ideia inusitada para a época. Depois de várias tentativas de
patrocínios e alguns fracassos, os pilotos foram escolhidos como parte da
tripulação de um avião fretado pelo jornal “The New York World”, que
patrocinava a tentativa de uma viagem aérea pioneira entre as Américas do Norte
e do Sul. Aquela foi uma época de grandes raides, mas se hoje é ainda temerário
sobrevoar a Amazônia em aeronaves pequenas, na década de 1920, isso quase
beirava a loucura.
A viagem começou em Nova Iorque, em novembro de 1922, e
terminou no Rio de Janeiro, em fevereiro de 1923, após terem sido cobertos os
5678 km do percurso com cem horas de voo interrompidas a cada instante pelos mais
variados problemas. O primeiro pouso em águas brasileiras ocorreu no dia 17 de
novembro de 1922, quando Pinto Martins e seus colegas americanos amerissaram na
foz do rio Cunani, no Pará.
O episódio foi posteriormente narrado pelo próprio Pinto
Martins a um repórter do Jornal O Estado do Pará: “Quando levantamos voo de
Caiena – Guiana Francesa - encontramos forte temporal pela proa. Rompemos o mau
tempo com dificuldade, mas tivemos de procurar abrigo. Tomei a direção do
aparelho (era o copiloto da viagem) e depois de reconhecer o Rio Cunani aí
descemos às 3h30min. O tempo lá fora era impetuoso e ameaçador. Não nos foi
possível prosseguir e passamos a noite matando mosquitos e com bastante fome,
pois não contávamos interromper a rota…”
Essa e outras aventuras tornaram a viagem New York – Rio de
Janeiro umaterrível aventura de obstáculos, só superados pela coragem dos
tripulantes. Às 12h20min do dia 19 de dezembro de 1922, “um grande pássaro de
asas abertas”, emitindo estranhos sons, chegava a Camocim. Era ele! O audacioso
aviador que pousava em sua cidade natal, motivo de imensa festa e alegria para
os camucinenses que participaram daquele momento histórico e do banquete, que
lhe foi oferecido às 14h.
Homenagem a Pinto Martins |
Pinto Martins foi, também, recepcionado pelo Presidente Artur Bernardes e
recebeu um prêmio de 200 contos de réis por seu feito histórico. Viajou à
Europa, voltou ao Rio e iniciou negociações para explorar petróleo.
Em 12 de abril de 1924, Pinto Martins morreu de forma brutal.
Até hoje o episódio não está bem explicado, mas Monteiro Lobato, em seu livro
“Escândalo do Petróleo e do Ferro”, sustenta que Pinto Martins foi vítima dos
poderosos lobbies interessados em atrasar o desenvolvimento brasileiro. A
verdade talvez nunca venha a ser conhecida. Uma versão para a sua morte é a de
que, após discutir com seu companheiro de viagem Walter Hinton, ele sacou uma
arma e suicidou-se na frente de sua amante.
Busto de Pinto Martins |
Em 1952, atendendo às aspirações dos seus conterrâneos, o
Presidente Café Filho sancionou Lei no Congresso oficializando o nome de Pinto
Martins para o aeroporto da capital cearense. Justiça, mas ainda pequena, para
o homem dinâmico, que na década de 1920, soube antever a importância econômica
da ligação aérea regular entre os Estados Unidos e o Brasil e que teve ainda a
coragem de investir na exploração de petróleo no país, quando isso era por
todos apontado como uma loucura. A viagem New York – Rio de Janeiro também era
insana, mas ele a concluiu. O Aeroporto Internacional Pinto Martins, em
Fortaleza, como homenagem leva seu nome, assim como o Campo de Pouso de
Camocim.
Dr. Lima