Por Aderaldo
Luciano*
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Uma certa
vergonha, romanceada com pitadas fartas de decepção, perpassa todos nós que
lidamos com cultura, no Nordeste, quando vem chegando o tempo do São João.
Agora mesmo me veio essa lamentável página envolvendo a secretaria responsável
pelas festas na valente cidade de Mossoró, terra dos meus ancestrais.
A revelação do
colunista César Santos, do Jornal De Fato, é perturbadora em todos os sentidos:
cultural, ético, histórico, sociológico e educacional, sem falar no político.
Quem não conhece o Trio Mossoró, quem ignora a história por trás de João
Mossoró, Carlos André, Hermelinda, considere-se um ignorante completo em termos
de história da música no Nordeste.
Trio Mossoró -
João Batista Lopes (João Mossoró), Hermelinda e Oséas Lopes (Carlos André).
A reunião
desses três irmãos, os Batista, originou, por volta de 1950, o trio, cuja
cidade de origem, batizou-o. Depois, já no Rio de Janeiro, Carlos André
consegue juntar todos novamente e o trio se reorganiza e se consolida como um
dos grupos de maior apelo regional, regando nossas raízes musicais. Até 1972,
quando o trio sofreu um racha, lançou pelo menos 10 discos, na época “long
play”, com músicas de nossa cepa mais profunda.
Mas o motivo
desse meu post atrevido é comentar, da maneira mais veemente possível, a falta
de conhecimento que habita as secretarias de cultura e de turismo de nossas
prefeituras, vivendo tão somente dos compadrios políticos e dos
apadrinhamentos. Pois bem, o Trio Mossoró, patrimônio material e imaterial
mossoroense, aquele que levou o nome da cidade a todos os recantos do país, em
40 anos de existência, foi convidado a tocar na Cidade Junina, a praça da
grande festa de São João, quando seria homenageado e lhe foi oferecido o
“significante cachê” de 400 reais.
Carlos André
confessou sua indignação e a notícia veio cair em nós que praticamos a luta
cultural. É um acinte, uma lacuna no bom senso, uma confissão de alta
ignorância, da imensa falta de todos os atributos. Mossoró, terra de bravos, de
resistentes, de formadores de opinião, berço de tantos nomes construtores de
nossa brasilidade, não pode estar vivendo tão desabonador momento. Mas o pior
veio depois: ciente do passo em falso, a secretária Isolda “corrigiu” o cachê
para 10 mil. Caso no qual a emenda leva o soneto mal-ajambrado todo a ser
condenado. Dinheiro não absolve o erro, a violência, a agressão moral contra o
Trio e contra todos que militam na música. O Trio Mossoró recusou. VIVA O TRIO
MOSSORÓ.
*Aderaldo
Luciano é doutor e mestre em Ciência da Literatura, pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro, professor, poeta, escritor e músico.
Enviado por
Higino Canuto Neto
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